sábado, 3 de outubro de 2015

Por que motoristas paulistanos aceitam bovinamente ficarem engarrafados ao lado daqueles tapumes [obras paradas do monotrilho] mas transformam-se em bestas-feras quando veem um ciclista?

O paulistano malha as ciclovias, mas curte a falta de planejamento do metrô. 
Mauro Donato - Diário do Centro do Mundo - 02/10/2015

Veja também: A “eficiência” de Alckmin: o monotrilho tá atrasado ou já passou? - “Dos 38,6 km de linhas prometidos até 2015, apenas 7,5% foram concluídos.”

Fonte: Haddad Tranquilão
A cada dia fico mais surpreso com o comportamento dos paulistanos. Quer dizer então que para uma trilha urbana simples como uma ciclovia exigem planejamento digno de alemães, precisão milimétrica suíça, organização japonesa. Do contrário fazem uma grita gigante, escandalizam-se, protestam, batem panelas.

Para uma obra complexa e milionária como o metrô não? Não precisa nada disso?

O Tribunal de Contas da União afirmou em relatório pós auditoria que a linha 17-ouro não possuia planejamento e nem mesmo orçamento (!) quando foi aberta a licitação.

Foram metendo a picareta no asfalto e vamos nós. Na maior cidade do país, a mais populosa, com todos os problemas inerentes às megalópoles, tão necessitada de soluções para o transporte público não havia planejamento para um serviço primordial como o metrô.

A linha 17 é mais uma das obras que deveriam estar prontas para a Copa do Mundo mas está completamente parada pela gestão Alckmin. Canteiros abandonados, material apodrecendo, muitos e muitos quilômetros de ruas e avenidas estranguladas por tapumes e cavaletes, piorando sobremaneira o trânsito.

Por que motoristas paulistanos aceitam bovinamente ficarem engarrafados ao lado daqueles tapumes mas transformam-se em bestas-feras quando veem um ciclista?

O trecho teria um custo previsto de R$ 3 bilhões, já está em R$ 5 bi e tudo o que se vê são entulhos. Esse gasto maior, e até agora em boa parte desperdiçado, se somado aos desvios praticados pelo cartel que vinha pilotando os trens há anos, é um escândalo de corrupção midiático. Deveria ser.

O Ministério Público entrou com ação solicitando o ressarcimento de R$ 500 milhões pelos danos causados pelo cartel do metrô. Está cobrando da Alstom, Siemens, Bombardier e mais outras empresas. Sim, cobrando das empresas, como se Alckmin fosse vítima. A cobrança deixou outros promotores fazendo bico pois já tinham costurado um acordo mais barato com as empresas – mais especificamente a Alstom – em troca de não apontarem os agentes públicos beneficiados pelo propinoduto tucano.

O que há de diferente entre este escândalo e o da Petrobras? Por que a culpa recairá apenas sobre as empresas e o governo ficará com o papel de coitado enganado?

Dilma é acusada de negligência. Se não se beneficiou financeiramente do esquema, fez vista grossa, não interferiu, não evitou, cometeu improbidades. Geraldo Alckmin não? Ele não aprovou, não assinou nada? Tudo isso se passou debaixo de seu nariz e ele não viu, não sabia, não ouviu falar. Ninguém quer seu impeachment?

Diariamente acusam Dilma de ter mentido durante a campanha. E Alckmin? Disse que não estava faltando e que não faltaria água de jeito nenhum. Já faltava há muito tempo (obviamente que não nos alienados bairros nobres), continua e continuará faltando. E nada tinha a ver com chuva, era sabido há mais de 15 anos que se obras não fossem feitas chegaríamos a isso. Alckmin não mentiu? Não deve nada? Não irão sugerir-lhe que renuncie?

É muito curiosa essa indignação seletiva.

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