domingo, 27 de julho de 2014

A grosseria de Israel e o regozijo funesto da grande mídia brasileira. O Globo prefere dar mais espaço à grosseria israelense, do que saudar repúdio do Brasil ao genocídio cometido por Israel em Gaza. Até as tragédias humanas servem de arma política para a grande mídia


A grosseria de Israel e o regozijo funesto da grande mídia brasileira

Cláudio Ribeiro - Blog Palavras Diversas - 26/07/2014
O Globo prefere dar mais espaço à grosseria israelense, do que saudar repúdio do Brasil ao genocídio cometido por Israel em Gaza. Até as tragédias humanas servem de arma política para a grande mídia
Mino Carta, editor da revista Carta Capital, mais uma vez nos brinda com análise precisa dos movimentos políticos internacionais que se movem por detrás de dois acontecimentos recentes: a queda do avião malaio nos céus ucranianos e a ofensiva militar de Israel em Gaza.

Os porta vozes do sionismo mundo afora bradam que Tel Aviv tem o direito [supremo] de se defender dos ataques palestinos. Só não conseguem explicar a opinião pública que “tais ataques”, são, verdade seja dita, ações desesperadas de resistência de um povo massacrado por cerca de sete décadas pela quarta maior potência militar do planeta, que conta com o auxílio dos Estados Unidos, a complacência da ONU e a indiferença de alguns países árabes, como a Arábia Saudita.

Tudo fica muito mais claro, após o governo brasileiro considerar como gravíssimo a continuidade dos ataques em gaza.

Israel responde de forma grosseira, não dá importância para o que pensa o coletivo internacional de países e o que se nota, não disfarçadamente, em seguida é um regozijo funesto de parte de nossa imprensa em destacar a estupidez “diplomática” de Israel e tripudiar sobre a condenação brasileira dos atos insanos que já mataram centenas de pessoas, grande maioria civis e muitas delas, crianças indefesas.

Para tudo há oportunismo, vontade de tirar uma lasca do adversário, até nas tragédias humanas.

Os covardes se valem da força, quando, claro, são mais fortes que o oponente, e da ajuda de outros valentões para fazer valer suas vontades na base da violência.

Suas atitudes agressivas costumam prosperar em um ambiente de silêncio medroso, de quem presencia a covardia e nada fala, consente.

O que o Brasil, outros países e manifestações da sociedade mundo afora já fizeram é o correto para uma situação delicada como esta. É preciso constranger os agressores e mostrar a opinião pública que certos comportamentos são inadequados para que haja coexistência pacífica entre os diferentes. Tem que haver condenação pública de governos e sociedade a uma barbárie como esta, para que pensem nas consequências políticas, sociais e econômicas que podem gerar a si mesmos.

Os vira latas de plantão que se abrigam na imprensa, estes se alimentam do ódio e cultivam sórdida desfaçatez para transformar ações diplomáticas legítimas em nome da paz, como a manifestação do governo brasileiro em reprovar os atos desumanos de Israel, em objeto para a disputa política, na trincheira que se alinham, interna e externamente.

Não valem nada.

O silêncio oportunista
Por que, para a paz mundial, a derrubada do avião malaio é muito menos ameaçadora do que a invasão de Gaza
Não pergunto aos meus botões em que mundo vivemos, temo a resposta. A crise mundial dispensa maiores apresentações. Moral e intelectual antes que econômica, embora esta confirme aquelas precedentes. Por que a humanidade rendeu-se à religião do deus mercado? Por que aceitou passivamente as leis de uma fé que aproveita a poucos e infelicita os demais?

Às vezes me colhe a sinistra sensação de que já começou uma nova, peculiar Idade Média. O mundo, seduzido pelo chamado avanço tecnológico, vítima de uma globalização dos interesses da minoria, distanciados os homens uns dos outros não somente pelo crescente desequilíbrio social, mas também pela versatilidade da mirabolante internet, não se apercebem do eclipse dos valores e dos princípios, e da ausência de poetas e pensadores.
É nesta moldura que se desenrolam os acontecimentos destes dias a agitarem a política internacional, e também se movem minhas dúvidas e perplexidades em relação aos comportamentos dos donos do poder, das chamadas opiniões públicas e dos sistemas midiáticos. No caso, a mídia nativa confirma apenas a sua insignificância, ao imitar simplesmente os exemplos chegados de fora.
Então vejamos. Por que os restos retorcidos do avião malaio derrubado no céu ucraniano ganham a primazia nas primeiras páginas e na fala sincopada dos locutores, no confronto com os mortos e a devastação na Faixa de Gaza? Não proponho um enigma. Trata-se do resultado da demonização de Putin misturada com o longo alcance do lobby judeu. De certa forma, a queda do avião veio a calhar para os senhores do mundo, sem detrimento da brutal gravidade do fato e a desolação causada pela morte de 298 semelhantes. Serviu, porém, para desviar a atenção, até onde foi possível, de algo muito mais grave para a paz global.
É no Oriente Médio que se decide o futuro do planeta, e isso é do entendimento até do mundo mineral. A questão da Ucrânia é complexa e ameaçadora, mas o império soviético, cuja presença estaria habilitada a precipitar severas complicações, ruiu há 25 anos. O Ocidente, ainda sujeito ao império norte-americano, tende a apresentar Putin como uma espécie de herdeiro tanto da URSS quanto do czar. Não é bem assim, está claro. O defeito do líder russo é sua inteligente independência, em que pesem sua prepotência e eventual ferocidade, e sem falar das preocupações geradas por seu envolvimento na criação de uma nova ordem pelos BRICS. Outra a dimensão da questão médio-oriental, para a qual reflui o efeito dos momentos mais tensos das últimas décadas.
Feridas profundas continuam a sangrar em toda a região, marcada pela progressão do fundamentalismo islâmico, por revoluções em pleno curso, pelos erros das políticas ocidentais, que aliás são seculares. E por guerras fracassadas, por revoltas malogradas, por atrocidades sem conta, por desmandos imperdoáveis. Etc. etc. No centro deste arcabouço instável, sempre à beira do desastre fatal, está Israel, Estado poderosíssimo por força própria e de quem o sustenta, a ocupar, desde o pós-Guerra, uma terra antes habitada por outro povo, conquanto também semita, há cerca de 2 mil anos.
Eu, por exemplo, não sou responsável pelo holocausto. Lamento, mesmo porque ceifou a vida de excelentes amigos dos meus pais, mas não me induz ao remorso, e tanto menos até hoje, quando a invasão da Faixa de Gaza pelas formidáveis tropas israelenses evoca a invasão do Corredor Polonês pelo exército de Hitler em 1º de setembro de 1939, estopim da Segunda Guerra Mundial. O Ocidente neoliberal diz que Tel-Aviv tem direito a se defender contra o terrorismo do Hamas. Já o Hamas sustenta estar em luta pelo resgate da terra usurpada.
Por cima das razões de cada um, a disparidade exorbitante entre as forças não pode deixar de influenciar qualquer juízo, para fortalecer a inequívoca percepção de que de um lado morrem soldados e do outro civis, e muitas crianças, em proporções absolutamente incomparáveis. Estamos diante de uma ofensa irreparável aos Direitos Humanos. Que visa Israel? Eliminar 1,8 milhão de palestinos? Dói demais, na circunstância, a falta de reação de uma porção do mundo que se pretende civilizado e democrático e, de verdade, sucumbe à soberania do dinheiro. Avulta, nesta encenação trágica, a ausência de lideranças, a falta daquele gênero de personagens que já ofereceram espaço à política e a praticaram com competência para assumir o controle da situação e ditar as regras.
Contamos com uma galeria de figuras medíocres, quando não parvas, incapazes de enfrentar a turva realidade para impor um rumo. E isso tudo nesta hora que denigre o gênero humano e denuncia a chegada da nova Idade Média. Louvo a iniciativa da chancelaria brasileira: chama às falas o embaixador israelense e de volta ao País o embaixador brasileiro em Tel-Aviv. Mas o Brasil pode e deve muito mais. Por exemplo, convocar a ONU, como sempre inerte, a condenar o massacre e mostrar às lenientes democracias ocidentais o caminho da razão.
Mino Carta

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