segunda-feira, 10 de março de 2014

A máquina de moldar opiniões está conseguindo transformar o "mensalão" no único caso de corrupção no Brasil. Todo o mal do país se concentra em alguns políticos já condenados. Todo o desvio de conduta se resolve com a concentração de cacetadas nos prisioneiros petistas. A mais implacável tentativa de linchamento, no que se tenta matar uma ninhada de coelhos de uma só cajadada.

Orquestrações explosivas
Pedro Porfírio - Blog do Porfírio - 06/03/2014

Máquina de moldar opiniões faz crê que todo o mal do país se concentra em alguns políticos já condenados

Estou começando a admitir (e a deplorar) que a inescrupulosa máquina de moldar opiniões está conseguindo transformar o que Roberto Jefferson alcunhou de "mensalão" no único caso de corrupção no Brasil. Sinceramente, estou pasmo com o confinamento mental de muitas pessoas, para as quais todo o desvio de conduta se resolve com a concentração de cacetadas nos prisioneiros petistas, como se isso solucionasse todos os problemas, todas as amarguras e todas as frustrações de um monte de gente, como se o ideal mesmo fosse aplicar castigos medievais abrangentes, alcançando, se possível, seus parceiros não condenados e as futuras gerações.  

Não sei se estou me fazendo entender, mas o que minha percepção alcança nisso tudo é a mais implacável tentativa de linchamento, no que se tenta matar uma ninhada de coelhos de uma só cajadada.

Digo isso até mesmo por e-mails de algumas pessoas sérias, honestas, bem intencionadas, no entanto, prenhes de sentimentos inquisitoriais, mais partidários do que políticos, mais políticos do que jurídicos, mais emocionais do que racionais, que acham pouco a sova penal aplicada, sobretudo, aos protagonistas do PT.  Essas pessoas sequer admitem a solidariedade para o pagamento das multas, sonhando que, assim, os condenados tenham de cumprir trabalhos forçados pelo resto da vida para quitar a dívida arbitrada.
Ao ver de uma psicanálise de massas pode-se achar nessa lenha ardente a genealogia composta da não resolvida derrota recente nas urnas, da nostalgia do obscurantismo em fase de decomposição, e da frustração de sonhos burlados pela sujeição oportunista e capitulacionista a um jogo de poder criminoso.
Diriam os especialistas - não é o meu caso - que estamos diante de uma tragédia que brande peias compensatórias. Em suas cenas mais pungentes, a racionalidade jurídica sucumbe ao tropel da ira e juízes de togas desbotadas não se pejam em buscar a empatia grotesca que, na pior das hipóteses, lhes oferece bons olhares para desmandos passados, presentes e futuros.

Tudo o que a máquina de moldar opiniões quer, concentrando o alvo,  é lançar um feirão de maracutaias ao esquecimento.


Já se vê diluir-se a ação penal contra os "mensaleiros" tucanos das alterosas e do DEM, no Planalto dos cortesãos.  O ex-governador Eduardo Azeredo deu o bote no processo com a renúncia ao mandato de deputado federal e raríssimos foram os escritos e gritos indignados. Já o seu colega José Roberto Arruda, filmado com dinheiro de propina, parece que já limpou a barra e vai se candidatar de novo o governo de Brasília, como se nada tivesse acontecido.

Não é só.  Veja essa exemplo: no dia 25 de março de 2009, 40 policiais federais varejaram o edifício sede da poderosa Construtora Camargo Corrêa, em São Paulo, descobriram jogadas de grana que envolviam partidos de todos os matizes e encaminharam o apurado à Justiça. Numa só penada, o Superior Tribunal de Justiça suspendeu o processo e anulou as provas, alegando que houve escutas ilegais e denúncias anônimas.  E, pelo menos por esses quatro anos, não se falou mais nisso.

Não precisa ir muito longe. As denúncias comprovadas, primeiramente no exterior, sobre esquemas de propinas no metrô de São Paulo, envolvendo tucanos de alta plumagem, só não foram para o ralo pelo caráter extra-territorial das investigações e pelas delações envolvendo a poderosa Siemens. Mas que está a caminho da geladeira midiática, ah isso está.

Teria uma tremenda lista de assaltos configurados aos cofres públicos, personagens destacadas em negociatas em série, mas é isso que a máquina de moldar opiniões consegue abafar. Por que, no fundo, no fundo, o seu interesse é capitalizar politicamente o noticiário a respeito, postando-se num patamar com alto poder de barganha a serviço dos seus clientes endinheirados.

Essa máquina trabalha com cartas marcadas. É azeitada por mafiosos apresentados na mídia como incansáveis empresários, que trapaceiam com bilhões de reais, fazem jogo político multifacético e mantêm o próprio Estado acuado. De tão ignominiosa é a sua teia que enche os olhos da distinta platéia com anúncios de lucros de R$ 15 bilhões em 2013 de um banco, mas esquece de dizer que o próprio está sendo intimado pagar R$ 18 bilhões à Receita Federal por sonegação fiscal.

Essas manobras solertes estão no verso do linchamento continuado dos chamados "mensaleiros do PT". É uma pena que os componentes de idiotização espargidos pela máquina de moldar opiniões introduzam no inconsciente coletivo a fúria punitiva concentrada em meia dúzia de prisioneiros, alguns provavelmente mais alvejados pelo que de bem fizeram ao longo dos anos do que pelo que de mal se lhes atribuem acusações sonorizadas por orquestrações explosivas.  

É lamentável, a meu juízo, que o clima das "torcidas organizadas de futebol" ,com sua sede de porradas à margem da competição, tenha se irradiado com tanta fartura no fogo cruzado que nada sacia. Essa carga pesada sobre os prisioneiros políticos da Papuda está longe de ser um legítimo desejo de justiça e punição.


É, sim, apenas a manipulação perversa com fins de alcance faccioso.  Para isso, não contem comigo.

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