segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa 2014, a copa da inclusão. A paixão brasileira do mundo esportivo foi democratizada de forma única e inigualável, com inclusão do "resto do Brasil", cidades sedes de times de "várzea" e de futebol refugo.

COPA DO BRASIL: ESTA NAÇÃO JAMAIS SERÁ A MESMA!
WASHINGTON ARAÚJO -Brasil 247 -  15/06/2014

Charge Vitor Teixeira
A arena da Amazônia é de uma beleza e perfeccionismo de encher os olhos! Uma arquitetura arrojada, um design refinado e uma bela cidade. Essa é a receita para ter esse novo templo do futebol.

A paixão nacional, até cinco anos passados se celebrava somente em três ou quatro estados brasileiros: Rio, São Paulo, Porto Alegre e Salvador. Com esta Copa 2014 a paixão brasileira do mundo esportivo foi democratizada de forma única e inigualável.

A autoestima do "resto do Brasil", tendo que ser sempre visto como lugares do futebol-refugo, sedes de times menosprezados como de "várzea", agora está engalanado:

1. Quem iria imaginar que Manaus um dia sediaria jogo oficial de Copa do Mundo reunindo duas campeãs do mundo de futebol com a tradição de Itália e Inglaterra?

2. Quem imaginaria, também, que um dia o México enfrentaria os Leões Camaronenses no moderno altar do futebol brasileiro que é a sofisticada Arena das Dunas em Natal?

3. E, em meio a um dos mais belos cenários do mundo, no coração do pantanal matogrossense, alguém sonharia em colocar um jogo de Copa do Mundo em Cuiabá, como esse em que o Chile daria uma lavada de 3 x 1 na Austrália?

4. Agora, pense bem, você que ora me lê: será que em fins do século XX alguém seria insano a ponto de imaginar que as seleções campeã (Espanha) e vice-campeã (Holanda) da Copa 2010 se enfrentariam na belíssima Fonte Nova de Salvador, em jogo da Copa 2014 e que o vice daria um chocolate saboroso de 5 x 1 na campeã do mundo?

5. Somente um delirante incorrigível, tão insuportavelmente quanto aqueles desbravadores modernos que, ainda nos 1950, vieram à solidão deste Planalto Central, ousaram transferir a capital federal do Brasil da sempre festejada cidade do Rio de Janeiro, poderiam quase 50 anos depois imaginar que Brasília sediaria partida oficial de Copa do Mundo reunindo Suiça e Equador em um dos mais imponentes monumento ao futebol mndial - o Estádio Bacional Mané Garrincha?

E pensar que há semanas ainda ouvia queixumes vindos do sudeste e sul Maravilha criticando a Copa do Brasil por se atrever a realizar uma Copa da Inclusão do Brasil: como construir arenas e estádios tão bonitos, modernos e imensos em cidades periféricas como Natal, Manaus, Curitiba e Cuiabá?

Certamente são aqueles mesmos que há pouco mais de uma década se negariam a promover a mais formidável inclusão social do Brasil. A receita deles era infalível: primeiro precisamos fazer crescer o bolo e, só então, teremos algo para dividir com o restante do país. E foi isso que gerou esse Brasil assustadoramente desigual, onde uns parecem ser mais brasileiros que outros em termos de direitos, qualidade de vida, educação, saúde, mobilidade e segurança.

Com o futebol se deu o mesmo. Bons jogadores só os que brilhassem no Maracanã e no Morumbi. Futebol-arte só aquele do eixo carioca e paulista. Todos os demais seguiam a perversa casta regionalista do esporte: Rio Grande do Sul com o Grêmio/Internacional; Pernambuco com Náutico/Santa Cruz/Sport; Minas Gerais com o Atlético/Cruzeiro; Bahia com o Bahia/Vitória. Depois os times paranaenses, capixabas, paraenses, pernambucanos, potiguares, manauaras, catarinenses.

Esta Copa do Brasil 2014 trouxe esse legado intangível, esse sentimento de pertencer à brasilidade, essa percepção que não há imprensa-contra, vândalos-mascarados e nem alas vips de Itaquerão com seu habitual preconceito e ojeriza às massas sofridas de brasileiros podem impedir de fluir por todo o país - esta Copa fez com que o sangue vital e generoso do Brasil passasse a irrigar o corpo da Nação como um todo.

Como, por justiça, deveria ter sido desde todo o sempre.

Este legado - a autoestima rejuvenescida de brasileiros que vivem em Manaus, Cuiabá, Natal, Fortaleza, Recife, Brasília, Curitiba, Salvador - com seus rostos felizes, orgulhosos de serem reconhecidos no mundo todo, ver que os olhos, corações e emoções de mais de 1 bilhão de seres humanos, ao longo de 90 minutos por partida da Copa, se dirigem às suas cidades, seus estados, suas origens ancestrais e... seus belos templos do futebol.

Futuros estudiosos da antropologia do futebol no Brasil saberão, sem dúvida alguma, reconhecer o impacto desse esporte em nossa vida cultural, econômica e social como delimitada em dois tempos - antes e depois da Copa do Brasil 2014.

Concluo estas reflexões tomado por esta emoção brejeira e saborosa a me dominar intensamente. Descubro-me, assim, cada vez mais responsável pela felicidade do todo. E é isso o que somos: guardiões da felicidade e do vem-estar de todos. Porque o que traz felicidade à parte passa a trazer felicidade ao todo.

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