domingo, 31 de agosto de 2014

Um mito e algumas verdades sobre os tributos no Brasil. O problema da carga tributária brasileira não está em ser “a mais alta do mundo” (uma grossa mentira), mas em estar, seguramente, entre as mais injustas do planeta.

Um mito e algumas verdades sobre os tributos no Brasil

Antonio Martins - Outras Palavras - 29/08/2014

Debate questiona crença segundo a qual carga tributária brasileira é “altíssima”. Problema real é outro: ricos e poderosos pagam pouquíssimo; somos o país dos impostos injustos


Ao longo do processo eleitoral deste ano, um mito voltará a bloquear o debate sobre a construção de uma sociedade mais justa. Todas as vezes em que se lançar à mesa uma proposta de políticas públicas avançadas, demandando redistribuição de riquezas, algum “especialista” objetará: “não há recursos para isso no Orçamento; seria preciso elevar ainda mais a carga tributária”. A ideia será, então, esquecida, porque a sociedade brasileira está subjugada por um tabu: afirma-se que somos “o país com impostos mais altos do mundo”. Sustenta-se que criar novos tributos é oprimir a sociedade. Impede-se, deste modo, que avancemos para uma Reforma Tributária.

A partir das 10h desta sexta-feira (29/8), três conhecedores profundos do sistema de impostos no Brasil enfrentaram este mito, num debate transmitido por webTV (acesse aqui). O auditor da Receita Federal Paulo Gil Introini, ex-presidente do sindicato nacional da categoria e os economista Jorge Mattoso e Evilásio Salvadorargumentaram, com base em muitos dados, que o problema da carga tributária brasileira não está em ser “a mais alta do mundo” (uma grossa mentira), mas em estar, seguramente, entre as mais injustas do planeta. Os grandes grupos econômicos e os mais ricos usam seu poder político para criar leis que os isentam de impostos — despejados sobre as costas dos assalariados e da classe média. A mídia comercial esconde esta realidade, para que nada mude. No debate, organizado em conjunto pela Campanha TTF Brasil e Fundação Perseu Abramo, emergiram alguns fatos muito relevantes, porém pouquíssimo conhecidos.

> A carga tributária brasileira não é a “mais alta do mundo”, mas a 32ª (entre 178 países). O cálculo é de um estudo comparativo da Fundação Heritage, um thinktank norte-americano conservador — mas com algum compromisso com a realidade.

> A carga tributária subiu consideravelmente, de fato, entre 1991 e 2011. Passou de 27% do PIB para 35,1%. Porém, a parte deste aumento de arrecadação foi consumido no pagamento de juros pelo Estado — quase sempre, para grandes grupos econômicos. A taxa Selic subiu para até 40% ao ano nas duas crises cambiais que o país viveu sob o governo FHC. O aumento do gasto social (de 11,24% do PIB para 15,24%, no período), que ocorreu de fato, a partir de 2002, consumiu apenas parte do aumento da receita.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Dilma aprovou mais leis e políticas públicas favoráveis aos interesses dos trabalhadores do que o do ex-presidente Lula : foram pelo menos 14 proposições criando ou recuperando direitos, contra nove do seu antecessor.

Dilma aprovou mais leis favoráveis ao trabalhador
Najla Passos - Carta Maior - 21/08/2014

Brasília - O governo da presidenta Dilma Rousseff aprovou mais leis e políticas públicas favoráveis aos interesses dos trabalhadores do que o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: foram pelo menos 14 proposições criando ou recuperando direitos, contra nove do seu antecessor. Quem afirma é o jornalista e analista político Antônio Augusto Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o órgão que assessora mais de 900 entidades sindicais dos trabalhadores com o objetivo de transformar em normas legais as reivindicações predominantes, majoritárias e consensuais da classe.


Os dados, segundo ele, contrariam a visão predominante no movimento sindical, de que o governo Lula privilegiou mais os trabalhadores do que sua sucessora. “A percepção do movimento em relação ao governo da presidenta Dilma é um tanto quanto distorcida. Talvez pelo fato dela não ter dialogado diretamente com a mesma frequência que o Lula, deu a impressão de que deixava em segundo plano esses atores importantes”, avalia o diretor do Diap.

Para o analista político, Dilma designou integrantes da sua equipe, com poder de decisão, para dialogar com os trabalhadores e movimentos sociais, especialmente dentre os quadros do Ministério do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidência da República. E isso resultou em avanços significativos para a classe. “Nós temos um conjunto de leis em favor dos trabalhadores, tanto quantitativa quanto qualitativamente, muito mais consistente do que no governo Lula, ainda que algumas tenham sido iniciadas no governo dele”, afirma.

Como exemplos concretos, ele cita a Lei 12.382/11, que institui a política de aumento real para o salário mínimo até 2015, e a Lei 12.506/11, que amplia o aviso prévio de 30 para 90 dias. E também a Lei 12.382/11, que cria a Certidão Negativa de Débito Trabalhista. “Essa lei exige que qualquer prestador de serviço ou qualquer empresa que venda produtos ao governo apresente uma certidão negativa de débitos trabalhistas, um salto fabuloso”, esclarece.

A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 72, a PEC das Domésticas, é outra medida legislativa conquistada pelo governo Dilma que o analista político destaca. “A PEC das Domésticas fecha um ciclo do ponto de vista de corrigir distorções e injustiças da classe trabalhadora. Os trabalhadores do campo e da cidade já tinham os mesmos direitos, mas os domésticos estavam apartados desses direitos”, justifica.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Truco! Eles falam, nós checamos. Agência Pública fiscaliza dados dos candidatos à Presidência, divulgados no horário eleitoral gratuito na TV.

Cobertura Eleitoral - Truco!  Eles falam, nós checamos.

O que é este projeto?

O horário eleitoral gratuito na TV é uma das peças mais importantes da disputa pela presidência. Mas até que ponto o que os candidatos dizem na propaganda é verdadeiro? O contexto correto muda a informação? Ou o que diz o candidato é simplesmente falso?

No Truco! vamos checar os dados mais relevantes apresentados pelos presidenciáveis durante os programas exibidos nas noites de terça, quinta e sábado. Também podemos “pedir o truco”, um desafio público às campanhas para que expliquem promessas ou dados importantes aparentemente insustentáveis . Também podemos discordar frontalmente dos candidatos quando acharmos suas propostas perigosas para a democracia e direitos humanos. Aí vamos carimbar um “Que medo” e fazer uma materinha explicando por quê.

Ao verificar esses dados, nosso objetivo é melhorar a qualidade do debate e estimular os eleitores a questionar o discurso dos presidenciáveis. Para isso, vamos convidar o público a participar, sugerindo informações que devem ser checadas e contribuindo com dados relevantes sobre cada tema.

Também estaremos nas ruas fazendo uma série de reportagens investigativas que serão publicadas semanalmente na seção “Cartas na Mesa”.

Série semanal de reportagens
No início da campanha, as reportagens vão ter como foco a população negativamente afetada por ações, projetos e propostas dos candidatos. Serão três matérias.

Na segunda parte da série, o foco das reportagens serão as propostas dos candidatos para três áreas consideradas prioritárias, julgadas por especialistas e movimentos sociais.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O poder dos paraísos fiscais: mais um debate interditado na mídia brasileira



O poder dos paraísos fiscais: mais um debate interditado na mídia brasileira
Najla Passos - Carta Maior - 14/08/2014

Os paraísos fiscais são a sustentação do modelo do novo poder financeiro global. Concentram de um terço a metade de toda a riqueza produzida no mundo, um montante estimado entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões. Ameaçam a soberania dos países e impedem a justiça tributária, condição necessária à justiça social. Mas, apesar de tudo isso, não rendem manchetes na imprensa brasileira.

“Não se discute os paraísos fiscais e centros offshore nos jornais brasileiros. E, quando se discute, é de forma pitoresca, como se fossem ilhas paradisíacas banhadas pelo sol tropical onde alguns milionários botam seu dinheiro. Não se discute a importância central que eles têm no capitalismo pós-moderno e para evitar a justiça social por meio da reforma tributária”, afirma Antonio Martins, da TTF Brasil.

Colaborador da Carta Maior e professor de pós-graduação da PUC/SP em economia e administração, Ladislau Dowbor, confirma. Segundo ele, a mesma TV globo que investe contra políticos não permite, por exemplo, que o nome de empresas e corporações sejam citados em entrevistas. “Ninguém discute o assunto. Em especial a mídia, que pode desancar governos, mas não empresas”, acrescenta.

Ele explica que é relativamente recente a divulgação dos dados a respeito dos paraísos fiscais. Mas mesmo as poucas pesquisas já realizadas sobre o tema dão conta do perigo que representam para as democracias. Como exemplo, cita estudo do insuspeito Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica traçou o primeiro mapa global de controle corporativo, que apontou um cenário desolador, inédito na história da humanidade.

Quem está pior, a economia ou o jornalismo? Quem acompanha a situação da economia pelos jornais vê um país. Quem acompanha a opinião pública vê outro. Um dos lados pode estar errado

Quem está pior, a economia ou o jornalismo?
Fábio Jammal Makhul - Rede Brasil Atual - 13/08/2014

Quem acompanha a situação da economia pelos jornais vê um país. Quem acompanha a opinião pública vê outro. Um dos lados pode estar errado

Não é improvável um espectador do telejornal noturno ter o sono perturbado com vozes soturnas de apresentadores e analistas. Pelo que se vê e se ouve, não se sabe o que aquele apresentador sério quer dizer com “boa noite”. Afinal, a economia do Brasil pode estar à beira da bancarrota. Tampouco se perdoa o “bom dia” do apresentador da manhã, pois os jornais do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.

A preocupação com a economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as que dormem mais cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso dia sem fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata, eternizou a frase “é a economia, estúpido!” Era 1992, e com esse aprendizado Bill Clinton superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai, demonstrando sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos nesse quesito. Eis o segredo do homem que faria história no Salão Oval da Casa Branca pelos próximos oito anos: saber o que, com quem e por que estava falando.

O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um deles, saciar os humores do mercado financeiro, servir de ponte para suscitar apostas nos cassinos da especulação, detectar (ou criar) o clima do ambiente eleitoral, entre outros, inclusive informar de vez em quando. Porém, pelo que algumas pesquisas têm demonstrado, a opinião pública talvez não veja a economia do Brasil como a veem os especialistas.

Pesquisas do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em relação ao país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de julho revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos, sendo um dos “aspectos para os quais os brasileiros demonstram um sentimento positivo acima da média”, no relato do instituto. Já a expectativa da situação econômica do país­ registrou 102 pontos em julho, alta de 6 pontos na comparação com maio. Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre a situação econômica pessoal e 48% esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros 38% acreditam que ficará como está. E apenas 12%, que vai piorar. Pela pesquisa, pode-se constatar que há um grande descompasso entre o sentimento positivo do brasileiro com relação à economia e o cenário catastrófico divulgado pela mídia tradicional.
O jornal ou o caixa

O comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem uma pequena loja de roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E diz que basta conferir as vendas para saber se a economia está bem ou não. “Você acha que vou acreditar no jornal ou no meu caixa?”, brinca, ainda comemorando as vendas que fez durante a Copa do Mundo. “A gente precisa ser criativo e se reinventar a cada dia. Durante a Copa, por exemplo, troquei as tradicionais roupas da vitrine por camisas da seleção ou por peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi muito, não posso reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo patamar dos anos anteriores”, diz.

Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais Vilma Silva de Lima, de 57 anos. O noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora de um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz que as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança. “Aliás, nas próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos vão dizer sobre esses problemas”, afirma.

Com a aproximação do pleito, a mídia tradicional começa a definir candidatos que querem ajudar ou atrapalhar. E, diferentemente de quase um quarto do eleitorado, parece não estar indecisa, analisa o jornalista e sociólogo Venício Artur de Lima, professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em eleições há três décadas e tem vários livros sobre o tema.

Lima avalia que a profusão de informações parciais para privilegiar uns e prejudicar outros dá o tom. “Seguem a mesma conduta das eleições passadas, talvez de forma ainda mais exacerbada.”

O pesquisador pondera, porém, que o Brasil mudou e o eleitor está mais capacitado e dispõe de meios diversos de informação para decidir o voto. “Tenho uma visão diferente da que tinha quando comecei a estudar eleições, nos anos 80. As pessoas buscam muito mais informação fora do esquema da grande mídia. É claro que a TV aberta continua sendo a principal fonte de informação, mas as fontes alternativas têm peso muito grande desde 2006”, avalia. Isso não significa, observa Lima, que a mídia convencional não seja importante para influenciar comportamentos em longo prazo. “A percepção das pessoas sobre corrupção e a estigmatização dos partidos ainda é influenciada pela mídia, mas no comportamento eleitoral em si, o peso do que é publicado nos principais jornais, na TV e no rádio diminuiu, graças a meios que antes não existiam”, comenta.
Pessimismo militante

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

"Bolinha de papel" 2014. A Wikfarsa e a verdadeira ameaça à democracia.

A Wikfarsa e a verdadeira ameaça à democracia
Vinicius Wu - Carta Maior - 12/08/2014

O que ameaça a democracia é a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em um suposto escândalo nacional.

LINK DA IMAGEM
O episódio da alteração dos perfis de Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg na plataforma colaborativa Wikipédia tem tudo para entrar para a história do jornalismo brasileiro como uma das mais grosseiras e levianas tentativas de manipulação da informação e de criação de factóides, com evidente motivação político-eleitoral. Porém, o mais importante no caso é compreendermos que, ao contrário do que sustentam as supostas "vítimas", não é a edição de seus perfis o que ameaça a democracia, mas sim a capacidade de um veículo de comunicação transformar algo irrelevante em "escândalo" nacional.

A repercussão desproporcional do caso em alguns veículos de imprensa só pode ser explicada pelo contexto eleitoral, onde percebe-se, claramente, a dificuldade dos candidatos oposicionistas em viabilizarem-se, apesar de todo esforço empreendido pelos monopólios de comunicação e pelo setor financeiro. Trata-se de uma das mais inusitadas — e surpreendentes — tentativas de desgaste do atual governo já realizadas pelos grandes veículos de mídia. Seria risível, se não fosse preocupante.

Até o mundo mineral sabe que não há qualquer controle sobre as edições realizadas na Wikipédia e que é muito difícil rastrear toda a rede que serve ao Palácio do Planalto, portanto, é muito provável que o "responsável" pela edição dos perfis jamais seja encontrado. Logo, nunca saberemos o que, de fato, ocorreu.

Talvez isso explique a desfaçatez de Míriam Leitão ao afirmar, em artigo publicado em O Globo, que "alguém deu ordem para que isso fosse executado" e que isso faz parte de "uma política". Fazer afirmações dessa natureza é tão leviano quanto afirmar que a própria jornalista teria feito as alterações, apenas para ganhar notoriedade. Simplesmente não há como provar uma coisa nem outra.

O ‘Mercado de Notícias’ no século 21 e O “Picasso” do INSS. Descoberta histórica ou barriga histórica? O falso Picasso falso. Um dos momentos mais emblemáticos do filme relata uma das mais bizarras “barrigadas” da imprensa nacional, que começou na Folha de S.Paulo no dia 7 de março de 2004

388 anos depois - O ‘Mercado de Notícias’ no século 21
Por Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa - 11/08/2014

Assistir ao filme O Mercado de Notícias, do diretor gaúcho Jorge Furtado, é uma maneira de analisar a reputação da imprensa junto à classe média tradicional das grandes cidades, ou seja, pode-se perceber o sentimento que a imprensa provoca em seu público mais característico pelas reações da plateia no cinema.

Classificado como documentário, o filme é quase um produto jornalístico, ao propor uma avaliação das práticas do jornalismo contemporâneo e oferecendo como referência a visão que se tinha da imprensa em seu nascimento, nas ruas de Londres no século 17.

Basicamente, o roteiro apresenta cenas da peça teatral “O Mercado de Notícias”, escrita pelo dramaturgo inglês Benjamin Jonson e encenada pela primeira vez em 1626, como uma sátira ao surgimento dos folhetins semanais que traziam notícias impressas, de forma organizada e periódica. Intercaladas a cenas da peça, produzidas exclusivamente para o filme, Jorge Furtado apresenta entrevistas com jornalistas brasileiros que ele considera representativos da melhor imprensa nacional.

Da mesma forma em que é apresentado na obra de Jonson, o jornalismo ainda é visto hoje como um negócio que busca o lucro sob o escudo de uma justificativa moral fundada no interesse coletivo. “Pecúnia”, personagem-símbolo do lucro na obra do dramaturgo inglês, sobrevive na imprensa contemporânea como o contraponto de uma visão ideal do jornalismo.

Os profissionais entrevistados, de modo geral, buscam elaboradas formas de interpretação para sustentar a ideia de que o jornalismo ainda é uma atividade nobre, apesar de seus muitos defeitos. Como não poderia deixar de ser, perpassa quase todas as entrevistas a questão do partidarismo exacerbado que caracteriza a mídia tradicional no Brasil.

Repórteres, editores e colunistas aparecem para dizer que atuam como mediadores de interesses diversos, mas alguns exemplos coletados pela produção revelam, como pano de fundo, que vale tudo no propósito de demonizar um dos lados do confronto político-ideológico que se instalou no país no último quarto de século.

O “Picasso” do INSS


Um dos momentos mais emblemáticos do filme relata uma das mais bizarras “barrigadas” da imprensa nacional, que começou na Folha de S.Paulo no dia 7 de março de 2004, foi reproduzida nos dias seguintes pelos outros meios de comunicação e nunca esclarecida: o caso do “Picasso” do INSS.

sábado, 9 de agosto de 2014

O “escândalo da Wikipédia” e a autofagia da TV Globo. No atual cenário eleitoral com uma frágil oposição política, a grande mídia começa a consumir a si mesma ao oferecer seus próprios integrantes como matéria-prima das bombas semióticas.

O “escândalo da Wikipédia” e a autofagia da TV Globo
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Cinegnose - 09/08/2014 

O “escândalo da fraude da Wikipédia” é a confirmação de que nada mais resta para a grande mídia do que a bomba semiótica da não-noticia. Em nova “denúncia” jornalistas Miriam Leitão e Carlos Sardenberg tiveram seus perfis na enciclopédia virtual Wikipédia “fraudados” com a inserção de difamações e críticas. E tudo teria partido do endereço virtual “da presidência”... ou teria sido “do Palácio do Planalto”... ou, então, “de um rede pública de wi fi?”. A ambiguidade dá pernas à não-notícia que revela um insólito desdobramento de um jornalismo cuja fonte primária (a Wikipédia) nega a si própria como fonte confiável de investigação. Abre uma surreal possibilidade de um tipo de jornalismo que se basearia exclusivamente em fontes onde o próprio repórter pode criá-las para turbinar a sua pauta. E de quebra revela o momento autofágico da TV Globo que oferece suas próprias estrelas jornalísticas em sacrifício no seu desespero de ter que lutar em duas frentes simultâneas: a política e a audiência.


Com o “escândalo Wikipédia” e a perspectiva de uma hilária “CPI do wi fi” está se confirmando que na atual batalha semiótica pela opinião pública a única arma que restou para a grande mídia é a da não-notícia – sobre esse conceito clique aqui.

O jornal O Globo deu a manchete (“Planalto altera perfil de jornalistas com críticas e mentiras”) e a TV Globo repercutiu nos seus telejornais durante todo o dia a “notícia” de que os perfis dos jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leitão na enciclopédia virtual foram alterados com o objetivo de criticá-los. E o IP (endereço virtual) de onde partiram as alterações era da rede do Palácio do Planalto.

As supostas “críticas” inseridas no perfil dos jornalistas qualificam as análises e previsões econômicas de Miriam Leitão como “desastrosas” e de ter defendido “apaixonadamente” os ex-banqueiro Daniel Dantas quando foi preso pela Polícia Federal em escândalo de crimes contra o patrimônio público. E o jornalista Sardenberg de ser crítico à política econômico do governo por ter um irmão economista da Febraban que tem interesse em manter os juros altos no Brasil.


Jimmy Walles: Wikipédia não é apropriada como fonte primária
Três características chamam a atenção nessa segunda detonação seguida de uma bomba semiótica da não-notícia (a anterior foi a tentativa de transformar a existência do media trainning na Petrobrás em escândalo político): a irrelevância, o timming e o tautismo.

Wikipédia é relevante?
Como a própria Wikipédia já admitiu, a enciclopédia não deve ser utilizada como fonte primária de investigação (“Wikipedia Reasearching With Wikipedia”). Jimmy Walles, co-fundador da Wikipedia, afirmou que “enciclopédias de qualquer tipo não são apropriadas como fontes primárias, e não devem ser invocadas como autoridades”.

Pelo seu caráter colaborativo onde qualquer usuário pode alterar o conteúdo dos verbetes, o uso da Wikipédia não é aceito em escolas e universidades. No máximo é utilizada como indicadora para fontes externas. Mas repentinamente para a grande mídia a Wikipédia passou a ter uma surpreendente relevância como documento primário de investigação.

Como “dar pernas” à não-notícia?

Estamos na típica situação jornalística em que se tenta “dar pernas” para a notícia que, em si, não possui relevância. A melhor forma de dar algum gás à não-notícia é por meio da retórica da ambiguidade.


A matéria do jornal O Globo ora fala que o IP era da “Presidência da República”, ora do “Palácio do Planalto”, ou também de “computadores do Palácio” e “IP da Presidência” para no final diluir tudo no “endereço geral do servidor da rede sem fio do Palácio do Planalto”. Naturalmente o teaser é dado pela manchete e primeiro parágrafo que tentam aproximar ao máximo o fato (irrelevante em si mesmo) da figura da presidente da República. Se o leitor persistir a leitura até o final da matéria, perceberá a diluição do próprio impacto noticioso.

Qual a matéria-prima dessa suposta notícia? De um lado a própria enciclopédia virtual que é até cautelosa consigo mesma e do outro uma rede wi fi pública. Com isso se projeta a possibilidade de que se alguém alterar o perfil do governador Geraldo Alckimin em rede wi fi pública instalada pela prefeitura de São Paulo, o gabinete do prefeito seria responsabilizado... A matéria abre uma surreal possibilidade de um tipo de jornalismo que se basearia exclusivamente em fontes primárias de investigação onde o próprio repórter pode criar para turbinar a sua pauta.

O timming do escândalo

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A direita está certa! Vamos copiar os EUA! E legalizar maconha, casamento gay e aborto.

A direita está certa: devemos imitar os EUA. E legalizar maconha, casamento gay e aborto
Cynara Menezes - Socialista Morena - 06/08/2014

(Marcha pró-aborto nos EUA. O aborto é legalizado no país desde 1973. Foto: Peter Keegan)
Os reacionários brasileiros adoram os Estados Unidos. Costumam passar, inclusive, as férias em Miami o que corrobora seu profundo mau gosto, já que o país é imenso e tem dezenas de outras cidades mais interessantes. Para a direita tupiniquim, os EUA são a Terra Prometida, onde jorra leite e mel. A economia deles é fantástica, a educação, a saúde, o cinema… Eles admiram até a junk food, aquela comida péssima que fez os índices de obesidade irem à estratosfera por lá. Enfim, se dependesse dos reaças, o Brasil imitaria o Tio Sam em tudo. Tudo mesmo? Será?
Claro que não! Existem conquistas dos norte-americanos que a direita brasileira faz tudo para esconder de você. Quando se trata destes assuntos, eles preferem mirar o Irã, o Afeganistão ou qualquer nação islâmica radical onde as mulheres andam de burca e onde tudo é proibido em nome de Deus. A Terra Prometida dos reaças, na verdade, é um mix de Estados Unidos por fora e país fundamentalista por dentro. Uma miragem para enganar trouxa.
Imagine se a reaçada brasileira, que adora macaquear os EUA, iria querer que nós imitássemos, por exemplo, a lei de aborto norte-americana. A obscura direita nativa, que em toda eleição tenta criar celeuma em torno do aborto, prefere ocultar do povo que, na terra de George Bush e Barack Obama, pode-se interromper a gravidez legalmente em absolutamente TODOS os 50 Estados desde 1973. A interrupção pode ser feita até a 22ª semana de gestação e, em 17 Estados, o atendimento ao aborto é realizado pelo serviço público de saúde. Nos demais, em clínicas particulares.
O aborto, além de ser um direito e uma escolha da mulher, é uma questão de saúde pública. Centenas de mulheres morrem anualmente por causa de abortos mal-sucedidos no Brasil, porque, é claro, eles continuam a ocorrer mesmo proibidos por lei. E o número de abortos com a legalização, ao contrário do que a direita costuma dizer, vem caindo a cada ano nos EUA. Segundo um estudo divulgado em março deste ano, o total de abortos praticados nos EUA caiu para o mesmo patamar de antes da decisão da Suprema Corte, em 1973 (leia aqui).
abortográfico
Outra coisa que nós poderíamos imitar dos gringos: 23 Estados e o Distrito de Colúmbia, onde está situada a capital, Washington, já aprovaram leis descriminalizando o porte de pequenas quantidades de maconha; 22 Estados permitem o seu uso medicinal; e dois deles, Colorado e Washington, legalizaram a maconha inclusive para o uso recreativo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sonegação de imposto no Brasil é padrão Fifa: 12 vezes mais que os gastos com a Copa. Ou 8,5 milhões de casas populares. De janeiro até início de agosto o Brasil deixou de arrecadar cerca de R$ 300 bilhões em tributos. São 200 Maracanãs, 300 Itaquerões ou quase 50 vezes o que foi destinado a todos os aeroportos das cidades-sede.

SONEGAÇÃO DE IMPOSTOS NO BRASIL É 12 VEZES SUPERIOR AOS GASTOS COM A COPA DO MUNDO
Sinprofaz - 06/08/2014
http://www.quantocustaobrasil.com.br/#
Nos primeiros oito meses de 2014, o Brasil deixou de arrecadar cerca de R$ 300 bilhões em tributos. É o que aponta o Sonegômetro, ferramenta criada pelo SINPROFAZ para aferir o quanto é sonegado no País.

Com o objetivo de atrair a atenção da população para o assunto, o SINPROFAZ realiza mais uma ação da campanha “Quanto custa o Brasil pra você?” Durante esta quarta-feira, 6/8, o caminhão com o placar eletrônico da sonegação estará no piso superior da Rodoviária de Brasília, revelando que a sonegação no Brasil já ultrapassa os R$ 300 bilhões. Esse valor equivale a 12 vezes o que foi gasto com a Copa do Mundo no Brasil.

A Copa 2014 apresentou um gasto global da ordem de R$ 25, 6 bilhões, de acordo com os dados da Matriz de Responsabilidade Consolidada, do Ministério do Esporte. Esse valor ainda precisa ser atualizado, pois o documento data de setembro de 2013 e refere-se aos custos de diversos empreendimentos: mobilidade urbana, estádios, aeroportos, portos, telecomunicações, segurança, turismo e instalações complementares destinadas à Copa das Confederações.

A estimativa é que a conta já tenha ultrapassado os R$ 30 bi. “Mas, se 25 ou 30 bilhões em obras com suspeitas de superfaturamento já representam um enorme gasto para o Brasil e, principalmente, para o bolso do contribuinte, o que dizer de um custo 12 vezes maior?”, observa Heráclio Camargo, presidente do SINPROFAZ.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

UERJ lança manchetômetro. Os números não mentem. Os jornais tem feito uma campanha sistemática contra a presidenta Dilma. A grande imprensa faz campanha diária contra a política e suas instituições (partidos, congresso, executivo, etc.): 98,7% das manchetes são negativas.

UERJ lança manchetômetro
Miguel do Rosário - O Cafezinho - 01/07/2014


Reproduzo trecho de email que recebi. Volto em seguida.

(…) Acompanho o seu trabalho no Cafezinho e escrevo para te convidar a conhecer o Manchetômetro, um site sobre a cobertura das eleições na grande mídia (Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal Nacional) que nós do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do Iesp lançamos semana passada.

http://www.manchetometro.com.br/

Estamos também no facebook: https://www.facebook.com/manchetometro?fref=ts

E no twitter: https://twitter.com/Manchetometro

*

Prezados pesquisadores da UERJ, a iniciativa é extremamente bem vinda! Todos os ângulos pesquisados nos fornecem um rico manancial para analisarmos a conjuntura política a partir da cobertura dos grandes meios de comunicação.

Vocês deram uma excelente contribuição ao debate político!

Os números não mentem. Os jornais tem feito uma campanha sistemática contra a presidenta Dilma.



Observe que somente em julho, com a eclosão do aeroescândalo de Aécio Neves, houve um repique negativo para o tucano.