segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

2014, O ANO QUE NUNCA VAI ACABAR - O ANO DA DECADÊNCIA DA REVISTA VEJA - E 2014, que parecia ser o ano da glória de Aécio, termina de forma melancólica para o senador mineiro.

2014, O ANO QUE NUNCA VAI ACABAR

Lelê Teles - 247 - 29/12/2014

O ano em que o Brasil sediou, mais uma vez, uma copa do mundo e tomou uma surra em casa, é um ano para nunca mais se esquecer.

Mesmo porque é inútil tentar apagar a história.

Foi no ano da graça de 2014 que o mundo assistiu, estarrecido, ao desaparecimento de um gigantesco boing 777, lotado de passageiros.

Embora vivamos vigiados diuturnamente, com câmeras em satélites, drones, câmeras subaquáticas, em shoppings, ruas, praças, banheiros e até a novíssima e exclusiva glande angular, que criei para ser usada e introduzida em filmes pornôs, a aeronave esvaiu-se sem deixar rastro.

Com mil diabos!

Mas o Brasil, meus amigos, não ficou pra trás. Na terra do jabuti e da jabuticaba, um helicóptero com meia tonelada de cocaína também virou pó e desapareceu do mapa, embora tenha deixado muitos rastros.

Coisa do capeta.

O ANO DA DECADÊNCIA


A revistaveja, todos sabemos, em 2006 abandonou de vez o jornalismo e entrou no ramo do marketing, pessoal e político, construindo e destruindo reputações. Lembro-me de Alckmin, então candidato à presidência, na capa da revistona, estampada panfleticamente em todas as bancas de jornais e em outdoors, às vésperas das eleições.

Propaganda disfarçada de jornalismo. Mas deram com os burros n’água. Lula meteu vexosos 7x1 em Alckmin.

Em 2010, a revistona foi de Serra. Também na capa, foto meiga, mão no rosto, um doce; um leão comendo alface.

E com esse santinho do santíssimo Serra, deram novamente com os burros n’água. O careca foi surrado por Dilma com o mesmo placar de 7x1.

E em 2014, a superação.

Aécio na capa, olhos esbugalhados e fixos, dentes brancos, riso careta, rasgando a blusa e mostrando no peito a tecla verde das urnas.

Era só confirmar.

Às vésperas do pleito, os descarados mandaram, descaradamente imprimir e distribuir a mais abjeta de todas as capas, só a capa, uma vez que não tinha conteúdo jornalístico a peça, tratava-se simplesmente de um endiabrado santinho.

Com esse inusitado panfleto, a revistaveja esticou a corda, testou até o limite o seu poder de influência e manipulação.

E, novamente, deu com os burros n’água.

Este ano, o PT chegou à quarta vitória consecutiva. Da varanda de casa dava pra ouvir Galvão Bueno gritar eufórico, abraçado ao Rei Pelé: “É tetraaaa, é tetraaaa”.

Durma com um barulho desses.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Saudades dos aviões da Panair: os empresários que não toparam pagar pau para a Ditadura. Empresários que, segundo o relatório da CNV, não fizeram como Roberto Marinho, do jornal “O Globo”, que não hesitou em apoiar a conspiração e o golpe de 1964. Dentre eles, Mario Wallace Simonsen (1909-1965) e Celso da Rocha Miranda (1917-1986) criadores da Panair do Brasil e da TV Excelsior.

Saudades dos aviões da Panair: os empresários que não toparam pagar pau para a Ditadura

Laura Capriglione - Blog da Laura Capriglione - Yahoo - 10/12/2014 


Filme: PANAIR DO BRASIL 
“O medo em minha vida nasceu muito depois
descobri que minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair
Nada de triste existe que não se esqueça
Alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe e não se esquece
Alguém insiste e fere o coração
Nada de novo existe nesse planeta
Que não se fale aqui na mesa de bar”
(Milton Nascimento, “Saudade dos Aviões da Panair”)

O texto divulgado nesta quarta-feira (10 de dezembro) pela Comissão Nacional da Verdade é um texto histórico tão necessário quanto duro e desagradável. Que fala de torturas e torturadores; de ganância e de empresários ambiciosos; de gente que se empenhou para matar a democracia e que ajudou a financiar os verdadeiros matadouros humanos construídos para calar a oposição.
Mas tem também o relato sobre os heróis que não toparam fazer qualquer negócio para se dar bem. É desses que se quer falar.
Milton Nascimento tem uma música incrivelmente linda chamada “Saudades dos Aviões da Panair”, que apareceu no disco Minas, de 1975, no mesmo ano em que o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo), num canto do quartel do II Exército, no bairro do Paraíso, em São Paulo.
Para quem não conhece esse pedaço hoje supervalorizado da capital paulista, informo: trata-se de um bairro de classe média vizinho ao parque do Ibirapuera, um endereço aprazível. Com sorte ou muito azar, quem naqueles dias estivesse andando pela rua Thomás Carvalhal, quase na esquina com a rua Tutoia, poderia escutar os gritos dos que eram barbarizados ali. Mas não havia para quem pedir socorro.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu que até dezembro de 1974, 2.148 pessoas haviam sido presas ali para serem interrogadas. Outros 795 presos foram encaminhados de outros órgãos. Somem-se mais 3.276 “elementos [que …] prestaram declarações e foram liberados” e tem-se uma idéia do congestionamento, do entra-e-sai de “suspeitos” naquela esquina. Cinquenta nunca puderam sair dali com vida. Morreram sob tortura.
Henning Albert Boilesen, o sinistro presidente do então poderoso Grupo Ultra, […] foi um dos elementos civis mais identificados com a repressão naquele período, embora não tenha sido o único. Boilesen ficou conhecido como o personagem que cuidava da arrecadação de recursos para a [… repressão]. Frequentava a sede da entidade, observava os presos políticos ali mantidos, assistia a sessões de tortura. Existem evidências de que tenha participado de algumas sevícias de prisioneiros políticos. Sua participação em atos de tamanha crueldade, crimes contra a humanidade, envolveu inclusive a importação de um equipamento para produzir choques nos prisioneiros políticos torturados. Acionado por um teclado, com a estrutura de um piano, o equipamento aumentava a frequência das descargas à medida que notas mais agudas eram tocadas.”
“Descobri que minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair”, disse a voz mais linda das Geraes. Pois a memória dos tempos da Panair serve para também desenterrar das sombras os invulgares relatos de heroísmo entre os poderosos.
Anote os nomes de alguns homens que dignificam os homens justos:
José Mindlin (1914-2010), empresário, dono da Metal Leve, bibliófilo e escritor.
Antonio Ermírio de Moraes (1928-2014), empresário, dono do grupo Votorantim.
Fernando Gasparian (1930-2006), empresário, editor e político.
Mario Wallace Simonsen (1909-1965), empresário, foi um dos criadores da Panair do Brasil e da TV Excelsior.
Celso da Rocha Miranda (1917-1986), empresário, foi um dos criadores da Panair do Brasil e da TV Excelsior.
Esses são empresários que, segundo o relatório da CNV, não fizeram como Roberto Marinho, do jornal “O Globo”, que não hesitou em apoiar a conspiração e o golpe de 1964, primeiro, e que, depois, na fase mais dura, apoiou diretamente o porão da tortura, das mortes e desaparecimentos.