sábado, 29 de novembro de 2014

"Compartilhar riqueza com o mundo é obrigação moral", diz papa Francisco - “Qualquer um, a quem falta o pão de cada dia e um trabalho decente, sabe bem disso“, disse. Francisco salientou ainda que os mendigos nas ruas, resguardados de seu direito civil por uma alimentação saudável, pedem dignidade, e não esmolas.

"Compartilhar riqueza com o mundo é obrigação moral", diz papa Francisco

DW - Via Pragmatismo Político - 21/11/2014

Papa Francisco pede mais solidariedade à luta contra a fome. Pontífice criticou ainda a visão capitalista do alimento como mercadoria. "Não temos problema de calorias, mas de produção, abastecimento e organização"

Charge Mário Tarcitano - Tribuna de Minas

Na Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2) da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o papa Francisco pediu mais solidariedade e ações concretas no combate à fome mundial. Segundo o pontífice, é “obrigação moral compartilhar a riqueza econômica com o mundo“. O discurso, realizado nesta quinta-feira (20/11) em Roma, foi aplaudido de pé pelas autoridades presentes.

“Nossas sociedades são caracterizadas por um crescente individualismo e por uma cisão“, disse o argentino aos delegados de mais de 150 países. Isso faz com que os mais fracos sejam privados de uma vida digna, prosseguiu.

Apesar dos avanços, “o número de pessoas que sofrem de fome e desnutrição segue inaceitavelmente alto“, afirmou o pontífice. Ele considera viável a exigência de reduzir a fome mundial pela metade. “Não temos um problema de calorias. Nós temos um problema de produção, abastecimento e organização“, definiu.

Segundo o papa, os desafios hoje são a falta de solidariedade e de uma distribuição justa dos recursos no mundo. Ele também falou numa crescente desconfiança entre países e entre cidadãos. “Qualquer um, a quem falta o pão de cada dia e um trabalho decente, sabe bem disso“, disse. Francisco salientou ainda que os mendigos nas ruas, resguardados de seu direito civil por uma alimentação saudável, pedem dignidade, e não esmolas.

O papa reconheceu que a comunidade internacional deu muito pouca atenção ao tema no passado. Em sua primeira visita a uma agência da ONU, ele também renovou sua crítica ao capitalismo. Segundo ele, o combate à fome e a desnutrição é dificultada pelo mercado, que é gerido pela premissa primária de lucro. Os alimentos foram degradados a uma mercadoria como outra qualquer, que também se transformou em objeto de especulação financeira, reclamou o líder da Igreja Católica.

Francisco citou ainda o papa João Paulo 2º, que, na Cúpula Mundial de Alimentação de 1992, também em Roma, advertiu para um “paradoxo da abundância“. “Há comida suficiente para todos, mas nem todos podem comer“, disse então o pontífice polonês. Há desperdício, consumo excessivo e a utilização de alimentos para outros fins. “Infelizmente, esse ‘paradoxo’ segue sendo atual“, lamentou Francisco.

Medidas contra a fome precisam levar em conta a produção e o acesso aos alimentos, além da mudança climática e do comércio agrícola. “Mas a primeira preocupação precisa ser o próprio ser humano. Todos aqueles que sofrem com a falta de alimentação diária“, pediu o papa.

Além disso, o tema da fome está envolto em corrupção, manipulações e desinformações que precisam ser superadas, disse.

Francisco também chamou a atenção para a preservação ambiental. “Deus perdoa sempre; as pessoas, às vezes; mas a natureza, nunca. Precisamos nos preocupar com o meio ambiente, senão ele reage com destruição.”

A conferência em Roma, que tem convidados ilustres como a rainha Letizia da Espanha, o economista americano Jeffrey Sachs e Melinda Gates, esposa do fundador da Microsoft, vai decorrer até esta sexta-feira. No primeiro dia, quarta-feira, os participantes acordaram uma declaração internacional que prevê o acesso seguro e suficiente a alimentos nutritivos para todas as pessoas do mundo. De acordo com dados da ONU, cerca de 805 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer.

Obesidade também é sinal de má nutrição

sábado, 22 de novembro de 2014

O tucano que iluminou o Brasil. Ricardo Semler, autor do artigo "Nunca se roubou tão pouco neste país", "constitui uma reserva de sensatez e espírito público em uma agremiação que vem se perdendo em hipocrisia e cegueira política, ideológica e social." - "ter gente como Semler dentro do PSDB ajuda a impedir que o partido piore ainda mais, mesmo que esse empresário provavelmente tenha pouca influência junto às hostes tucanas."

O tucano que iluminou o Brasil

Eduardo Guimarães - Blog da Cidadania - 22/11/2014

Charge Facebook - Humor Inteligente
Ricardo Semler tem o perfil tucano padrão. Rico, 55 anos, paulista, empresário de renome, é hoje vice-presidente da Fiesp, além de CEO (executivo-chefe) e sócio majoritário da empresa Semco S/A. E não tem apenas perfil tucano; é filiado ao PSDB. E das antigas. Filiou-se quando Franco Montoro presidia o partido.

Semler tornou-se conhecido por ter implantado em sua empresa fórmulas inovadoras de gestão empresarial. Sob sua gestão, o faturamento da empresa subiu de quatro milhões de dólares em 1982 para 212 milhões de dólares em 2003.

A revista TIME elegeu o executivo paulista como um dos “100 Jovens Líderes Globais”, em 1994. O Fórum Econômico Mundial também o apontou em trabalhos semelhantes. Foi exaltado como gestor pelo Wall Street Journal – como “Empresário do Ano na América Latina”, em 1990, e “Empresário do Ano no Brasil”, em 1992.

Semler formou-se em Direito na USP e estudou Administração em Harvard. Além disso, escreveu livros que se tornaram sucesso em vendas no Brasil e exterior.

Na última sexta-feira (21), o empresário surpreendeu o país com um artigo no jornal Folha de São Paulo na linha super sincero. No texto, reconheceu que, apesar da gritaria hipócrita entoada hoje sobre corrupção – sobretudo na imprensa –, nunca se roubou tão pouco neste país.

O artigo em questão se espalhou como fogo e provocou polêmica apesar de não conter novidade. Tivesse sido escrito por um petista ou mesmo por um cidadão sem coloração partidária, teria passado batido. O que fez o texto repercutir tanto foi o fato de seu autor, declaradamente tucano, contrariar o discurso de seu partido.

O artigo de Semler gerou polêmica a partir do título: “Nunca se roubou tão pouco”. Dali em diante, sem abrir mão do discurso tucano contra o PT – de que, ao longo dos governos Lula e Dilma, houve corrupção e barbeiragens na economia –, o empresário tucano demonstrou que é possível defender as próprias bandeiras políticas e ideológicas sem cair no mau-caratismo.

O discurso de Semler em um texto literalmente antológico e que, a esta altura, quem se interessa por política com certeza já leu, se fosse entoado por Fernando Henrique Cardoso faria dele alguém que seria respeitado pela maioria, em vez de repudiado.

Infelizmente, à diferença do correligionário no PSDB, FHC se entregou à politicagem mais barata que se possa conceber, causando surtos de indignação quando se dá ao desfrute de fazer acusações de corrupção aos adversários políticos. Justamente ele, FHC…

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Paulo Francis, um fantasma nas redações. Em 1997 Paulo Francis afirmou que diretores da Petrobras engordavam contas bancárias na Suíça com dinheiro de propinas obtidas na compra de equipamentos. A lembrança de sua denúncia vem agora assombrar antigos dirigentes da empresa petroleira e colocar a imprensa brasileira diante de um dilema.

Trecho do filme "Caro Francis" de Nelson Hoineff

Paulo Francis não morreu

Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa - 17/11/2014

Os jornais do fim de semana registram o que pode vir a ser o ponto de inflexão das relações viciadas entre a política e os interesses privados no Brasil. A prisão de 24 altos executivos, entre os quais quatro presidentes de grandes empresas e um ex-diretor da Petrobras, coloca nas mãos da Justiça o material necessário para aprofundar as investigações sobre a corrupção e passar a limpo o sistema de financiamento de campanhas eleitorais.

A última etapa da ação policial está sendo chamada de “Juízo Final”. Os jornais dizem que serão citados pelo menos 70 senadores e deputados. Também está publicado que todos os partidos, com exceção do PSOL, foram financiados pelas empreiteiras acusadas no escândalo.

O evento coloca o Brasil diante da possibilidade de levar à frente uma “Operação Mãos Limpas” como a que sacudiu as instituições italianas nos anos 1990. O alto risco dessa operação reside no fato de que sua continuidade pode depender do empenho da imprensa em dividir com equilíbrio e de forma equânime as responsabilidades, sem omitir ou dissimular as culpas conforme a filiação partidária dos acusados. Deve-se lembrar também que o esquema descrito pelos jornais na segunda-feira (17/11) é uma cópia exata do “clube de fornecedores” revelado no escândalo do metrô de São Paulo.

Entre as muitas páginas publicadas desde sábado (15), apenas a Folha de S. Paulo dá espaço para os dois pontos que irão definir o alcance da ação policial. Num deles, o colunista Luiz Fernando Viana (ver aqui) critica a omissão da imprensa em buscar as origens do esquema de corrupção que envolve gestores públicos e fornecedores de produtos e serviços ao Estado. O jornalista questiona: “Por que passamos a achar que nos cabe apenas noticiar os acontecimentos mais recentes, sonegando ao leitor informações que ampliariam sua capacidade de discernimento?”

No outro exemplo, o articulista Ricardo Melo observa (ver aqui), muito a propósito, que, em 1997, o jornalista Paulo Francis afirmou, em comentário no programa Manhattan Connection, que havia um esquema de roubalheira na Petrobras. O então presidente da empresa, Joel Rennó, em vez de tomar alguma providência, abriu um processo de US$ 100 milhões contra Francis, lembra o articulista da Folha.

Um fantasma nas redações

Portanto, está definido o ponto mínimo de movimentação da imprensa diante do escândalo, sem o qual o noticiário deixa de merecer credibilidade: quais eram os fatos a que se referia o polêmico comentarista.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Seca em São Paulo ou Indústria da Seca Sudestina? Tudo indica que a seca não migrou para o planalto paulista. O que migrou para São Paulo foi a indústria da seca?

Seca em São Paulo ou Indústria da Seca Sudestina?

Fábio de Oliveira Ribeiro - Jornal GGN - 14/11/2014 

Charge: Moesio Fiuza - Tribuna do Ceará
A crise hídrica no sudeste é grave e, curiosamente, ocorre exatamente no momento em que o governo federal está otimizando os recursos federais aplicados no nordeste para combater a seca. A construção de cisternas familiares e de pequenos reservatórios para captar água da chuva, a manutenção dos açudes e a transposição do São Francisco estão revolucionando o nordeste, fixando o nordestino na região. Nos próximos anos o governo Dilma Rousseff proporcionará uma significativa melhora da economia e no padrão de vida no semi-árido. O relevante papel do Exército e dos engenheiros militares nesta revolução não pode ser esquecido.

Ainda é cedo, mas pelo menos no nordeste parece que a indústria da seca chegou ao fim.

“Indústria da seca é um termo utilizado no Brasil para designar a estratégia de certos segmentos das classes dominantes que se beneficiam indevidamente de subsídios e vantagens oferecidos pelo governo a partir do discurso político da seca. O termo começou a ser usado na década de 60 por Antônio Callado, que denunciava no Correio da Manhã os problemas da região do semi-árido brasileiro.

O Governo Federal Brasileiro dispõe de alguns programas, como a Operação Carro-pipa desenvolvida pelo Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil, com o Exército Brasileiro, que buscam contornar os efeitos da seca e minimizar a falta de investimento em infra-estrutura básica em determinadas regiões do país.

A problemática da seca remonta aos tempos de Dom Pedro II, que chegou inclusive a afirmar que venderia as jóias da coroa, fato que não aconteceu, para acabar com o problema, agravado pela grande seca do Nordeste em 1877."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Seca_no_Brasil#Ind.C3.BAstria_das_secas

O problema da seca no sudeste preocupa. O Estado de São Paulo não realiza obras para melhorar a captação de água há 20 anos. Há 10 anos o primeiro sinal de alerta foi dado, mas os governos tucanos nada fizeram além de privatizar a Sabesp e permitir a distribuição dos lucros auferidos pela companhia. No ano passado os reservatórios paulistas quase secaram. Neste ano, eles estão ficando secos meses antes do início do período das chuvas.

Apavorado pelo problema que criou, Alckmin pediu aproximadamente 3,5 bilhões de reais ao governo federal para sanar a crise hídrica em São Paulo. O governo Dilma Rousseff reclama que o governador paulista não detalhou como e onde pretende usar o dinheiro público dos brasileiros.

domingo, 9 de novembro de 2014

Estelionato eleitoral foi o que FHC fez em 1999. Em 1998, o país estava à beira da bancarrota, mas a propaganda eleitoral tucana vendia outro mundo ao eleitor e garantia que estava tudo bem.

Estelionato eleitoral foi o que FHC fez em 1999

Eduardo Guimarães - Blog da Cidadania - 09/11/2014

Na semana passada, após anúncios de aumentos da taxa Selic e de 3% no preço da gasolina, lideranças do PSDB e os jornais de sempre qualificaram a medida como “estelionato eleitoral” que teria sido praticado pela presidente Dilma Rousseff porque, durante a campanha de sua reeleição, teria negado que o governo fosse aumentar juros e combustíveis.



Em primeiro lugar, há que dizer que é mentira. Dilma nunca disse que deixaria de fazer política monetária. Aliás,até abril deste ano o governo dela aumentou a taxa Selic NOVE vezes consecutivas. Quanto à gasolina, o último aumento foi de 4% e ocorreu em novembro do ano passado. E a presidente jamais disse, durante a campanha deste ano, que não haveria aumento.

Detalhe: a inflação do ano passado e deste girou em torno de 6%, bem maior que os aumentos dos combustíveis.

O mais curioso, porém, é ver o jornal Folha de São Paulo publicar, em sua última edição dominical (9/11),editorial em que chama de “estelionato eleitoral” os aumentos de juros e combustíveis – que já estavam previstos –, a divulgação da oscilação do percentual de miseráveis no país e um aumento do desmatamento.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Para quem quer fugir do "bolivarianismo" no Brasil, tem 20 motivos para NÃO ir para a Austrália.

20 RAZÕES PARA QUEM QUISER FUGIR DO "BOLIVARIANISMO" NO BRASIL ‪#‎NÃO‬ VIR PARA A AUSTRÁLIA

Por André Levy - Facebook - 02/11/2014
1. Para tudo há conselhos de movimentos sociais (peak bodies), e os governos os consultam e prestam-lhes satisfação regularmente (bit.ly/1san6Qa).

2. O governo paga até R$1562 de Bolsa Família (Parenting Payment, bit.ly/1pgKakt), sem qualquer exigência como frequência escolar ou vacinação (no Brasil os beneficiários recebem em média R$5 por dia para a família toda).

3. Não se pode fazer reforma em casa sem submeter seu projeto à consulta pública, através da prefeitura, exigindo que se pendure um aviso na porta da tua casa por duas semanas ou mais para quem quiser consultá-lo e apresentar objeções. Se os teus vizinhos não gostarem da ideia, a prefeitura não aprova (bit.ly/10jbDX2).

4. Há piscinas públicas nas praias e churrasqueiras nos parques de uso gratuito, pagas com o bolso do contribuinte.

5. As cláusulas dos contratos de aluguel residencial são ditadas pelo governo do estado (bit.ly/1phlBE4).

6. Não se pode trabalhar de barman sem licença específica para servir álcool (RSA, onlinersa.com.au).

7. Não se pode vender álcool em mercados e supermercados; só em lojas licenciadas pelo Estado (bottle shops, bit.ly/1DWVymW).

8. Não é permitido trabalhar de eletricista, encanador ou pedreiro sem licença do Estado (professional license, bit.ly/1e43SWa).

9. Não é permitido abrir um cabeleireiro sem licença específica do Estado (business license, bit.ly/1pgLuEb).

10. Tem ciclovia para todo lado e é proibido andar de bicicleta sem capacete ou na calçada. A multa por não usar capacete é R$115 em Sydney (bit.ly/1uounCc), R$332 em Adelaide (bit.ly/1go9IaK) e R$400 em Melbourne (bit.ly/1x2Ojsb).

11. Todos os filmes exibidos em cinemas, festivais e instituições de ensino precisam passar pela censura (Classifications Board, classification.gov.au).

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Quem tem medo do povo? Senador Requião defende participação popular prevista em decreto de Dilma. "Os monopolistas da mídia não querem conselhos populares cobrando o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação, como é regra em países dominados pelo “bolivarismo” como os Estados Unidos e a Inglaterra. …..Não querem o direito de resposta. Não querem o contraditório. Não querem a democratização das informações."

Requião defende participação popular prevista em decreto de Dilma
Roberto Requião - 04/11/2014 


Ano passado, quando a Constituição de 1988  fez 25 anos, sessões especiais nos legislativos de todo o país, conferências, seminários, debates, programas de rádio e televisão, encartes em jornais e revistas,   paradas e desfiles cívicos, documentários, filmes,  missas solenes, Te Deum  e até bailes homenagearam a ilustríssima aniversariante pelo jubileu de prata.
Uma festa de discursos e adjetivos altissonantes, rimbombantes.
Essas comemorações vieram-me fortemente à memória na terça-feira, dia 28, quando a Câmara dos Deputados sustou o decreto presidencial que previa  a criação dos conselhos populares.
Houve quem visse no episódio o troco, a vingança do presidente da Câmara pela derrota nas eleições estaduais no Rio Grande do Norte. Pode ser que, como diz o povo, que a fome e a vontade de comer tenham se irmanado na decisão de derrubar o decreto. Pode ser.
A verdade é que  o decreto já estava condenado. E a Câmara não fez mais que confirmar uma verdade: é permitido que se façam todos os elogios à Constituição Cidadã, desde que seu conteúdo verdadeiramente cidadão, democrático e popular não seja regulamentado.
É bom que a gente se lembre, e se lembre sempre: a tão versejada  Constituição de 88 que, na minha opinião,  não chega a ser a maravilha das maravilhas, mas representou um avanço, é resultado de determinada conjuntura, de um balanço de forças circunstancial.
Fazia pouco que o país emergira da ditadura e era natural que a pressão por avanços democráticos, pelo alargamento da participação popular, fosse absorvida pela Constituição.  Além do que, some-se a mobilização das organizações populares e sindicais à época. E a composição do Congresso Constituinte, bem menos conservadora que Câmara e Senado de hoje.
Se a composição da Constituinte de 1988 fosse a do Congresso atual, temos todas as razões para duvidar que, por exemplo, o Sistema Único de Saúde fosse aprovado .  E os títulos VII, Da Ordem Econômica e Financeira; e o Capítulo VIII, Da Ordem Social, certamente teriam conteúdos e redações absolutamente diferentes.
Ora, assim sendo, toda a regulamentação da Constituição que faça cócegas, por mais leves que sejam,  nos conservadores parlamentares, nos conservadores mediáticos, nos conservadores religiosos reproduzirá a forte resistência que vimos no dia 28 de novembro.
É ocioso, é perda de tempo argumentar que alguns conselhos a que se refere o decreto que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social já vigoram, já existem. Por exemplo, o Conselho de Comunicação Social.
É bem verdade que este Conselho levou um bom tempo para ser instalado. Regulamentado em de dezembro de 1991, só foi instalado onze anos depois, em 2002. Funcionou por quatro anos e ficou inativo até julho de 2012,  quando foi reinstalado. Aliás, ao que parece, a ressurreição apenas se deu porque sua composição  favorece claramente a representação empresarial, a imprensa-empresa.
De todo modo, o Conselho de Comunicação Social é prova de que os conselhos, mesmo que de forma tímida e, às vezes, desvirtuada, já fazem parte da vida brasileira. Na esteira da criação do Conselho de Comunicação Social  foram criados os Conselhos estaduais do Amazonas, Pará, Alagoas, Bahia, Paraíba, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Para quem não sabe, o Conselho de Comunicação Social reúne-se  nas dependências desta Casa  toda primeira segunda-feira do mês, é presidido pelo cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta e tem como vice ex-secretário de Comunicação do Senado, o nosso amigo  Fernando César Mesquita.
E pelo que sabemos, a existência deste Conselho não abalou, não subverteu, não “venezualizou”, não “boliviarianizou” nossa pátria amada.
Na verdade, a criação dos conselhos de participação popular antecede, em décadas, a Constituição de 88. O primeiro dos conselhos a ser criado, o Conselho de Educação, foi instalado em 1936, portanto, há 78 anos. E nem o Estado Novo de 1937 e o golpe militar de 1964 suprimiram o Conselho de Educação.
Registre-se que até mesmo os militares criaram conselhos aos moldes do decreto da presidente Dilma, por exemplo, o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT, instalado em 1966.
Evidentemente, a participação nesses conselhos, durante o Estado Novo e a ditadura de 64, era selecionada e vigiada.
Pergunto aos senhores deputados que derrubaram o decreto 8.243 e aos senadores que prometem fazê-lo o mesmo nesta Casa se também vão cancelar o Conselho de Educação e o Conselho do FAT.
Mais ainda, pergunto o que vão fazer fulminar os 5.553 Conselhos de Saúde existentes no país.
As senhoras e os senhores senadores sabiam que apenas 17 dos 5.570 municípios brasileiros não têm Conselhos de Saúde? E que existem 3.784 Conselhos de Meio Ambiente?
E que há mais de cinco mil Conselhos de Educação?
Ora, revogue-se de vez  a tão incensada Constituição Cidadã; cancele-se o princípio da Democracia Participativa; dê-se nova redação ao artigo 14 da Constituição que diz: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos e, nos termos da lei, mediante plebiscito, referendo, iniciativa popular”.
Chega de hipocrisia, chega de cinismo, chega de impostura.
O que incomoda e provoca urticária na velha e na nova direita brasileira, o que deixa a grande mídia empresarial com comichões autoritários são as pequenas, as modestíssimas brechas da Constituição de 88 à participação popular.
A possibilidade de conjugação da democracia representativa com mecanismos de participação popular, tornando viável a democracia direta, é isso que está por trás da reação furiosa dos conservadores ao decreto presidencial. É contra isso, é contra essa conjugação que se insurgem a velha e a nova direita.
Houve tempo em que Norberto Bobbio era o autor preferido dos que se opunham a uma leitura marxista ou gramsciana da política.  Os nossos liberais adotaram-no como profeta. Pois bem, é a Bobbio que recorro para recuperar um dos pilares de seu pensamento: quanto maior a soberania popular, mais verdadeira, mais efetiva a democracia, diz ele.