Tijolaço - 29/07/2013
O compositor e cantor Max Gonzaga está “bombando” na internet com a música “Classe Média”, despertando a ira dos “coxinhas”, o nome que pegou para os jovens de classe média que reproduzem o discurso superficial e de direita da mídia.
Max, coitado, está sendo acusado de fazer a música para zombar das manifestaçoes do mês passado, mas a gravou há oito anos, em 2005.
Aliás, Max diz cantando, muito mais simples e bem-humorado, o que a Marilena Chauí falou, provocando tanta polêmica.
Se alguém quiser o disco do Max, a propaganda é grátis, basta clicar aqui e ele combina um jeito de entregar.
Em tempo: a classe média é e pode ser diferente. Foi dela que saíram Chico Buarque, Caetano, Gil e uma geração de artistas e intelectuais geniais, como anos antes tinham surgido Vinìcius, Graciliano, Jorge Amado e tantos outros. Mas é preciso, para isso, apenas um detalhe: não ter o umbigo no centro do Universo e lembrar que o povo é a terra de onde o intelecto se alimenta para brotar e poder florir.
Max, coitado, está sendo acusado de fazer a música para zombar das manifestaçoes do mês passado, mas a gravou há oito anos, em 2005.
Aliás, Max diz cantando, muito mais simples e bem-humorado, o que a Marilena Chauí falou, provocando tanta polêmica.
Se alguém quiser o disco do Max, a propaganda é grátis, basta clicar aqui e ele combina um jeito de entregar.
Por: Fernando Brito
Max Gonzaga, autor do hit ‘Classe Média’, fala ao Blog da Cidadania
Eduardo Guimarães - 08/05/2013
Nos últimos anos, uma composição algo antiga, de meados da década passada, proliferou pela internet e por blogs e sites ditos “progressistas”, surgidos no âmbito de um movimento pela democratização da comunicação que ganhou força desde então devido ao esgotamento da paciência dos setores pensantes da sociedade com um oligopólio composto por impérios de comunicação que vêm toldando as questões mais prementes da cidadania e a pluralidade do debate das grandes questões de interesse nacional.
O nome da canção é “Classe Média”. Foi composta em 2005 por um artista natural de São José dos Campos, interior de São Paulo, chamado Max Gonzaga. Um grande artista, na opinião deste Blog.
Antes de prosseguir, se ainda não assistiu sugiro que assista, logo abaixo, ao vídeo de um festival de que Max Gonzaga participou com essa canção.
Muito boa, não? Prestou atenção à letra?
Essa canção passou a ser lembrada por blogs de esquerda em 2007, quando eclodiu um tal de “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, que ficaria conhecido popularmente como “Cansei”.Caso alguém não saiba, o autoproclamando “movimento da sociedade civil” surgiu logo após o acidente com o voo 3054 da TAM. Declarava-se apartidário, mas propugnava “reflexão” sobre “os motivos” do que considerava “desordem da administração pública no governo Lula”.
Recentemente, durante a volta à cena do velho debate sobre maioridade penal, este blog amparou-se em “Classe Média”, de Max Gonzaga, para tentar combater um sentimento doloroso que vem engolfando a sociedade em relação a esse tema e que, segundo o artista em pauta, foi o que o motivou a compor aquela canção.
Nos últimos dias, o Blog conseguiu contato com Max e lhe pediu uma entrevista cujo resultado você confere a seguir.
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Entrevista de Max Gonzaga ao Blog da Cidadania
Gravada em 8 de maio de 2013
Por Eduardo Guimarães
Blog da Cidadania – Max Gonzaga, autor do hit “Classe Média”, gostaria que você falasse um pouco a um público que, em boa parte, já o conhece, já viu o seu vídeo e já ouviu a sua música, e que gostaria de conhecer mais de você – e eu me incluo entre essas pessoas. A gente quer saber quem é Max Gonzaga e o que é que o levou a compor Classe Média, um recado incrivelmente direto a todos nós, que faz com que pensemos sobre as nossas vidas de classe média.
Max Gonzaga – Eu sou nascido e criado em São José dos Campos, no interior de São Paulo, a 90 quilômetros da capital. Meu contato com a música veio através do meu pai, um acordeonista que sempre teve a atividade de música como hobby, que depois se entremeou pela minha casa. Então, essa musicalidade dele e, também, da minha mãe, que canta muito bem, apesar de nunca ter tido aula de canto. A música estava ali, nos dois. E eu acabei captando isso e, com o decorrer do tempo, adotei o violão como meu instrumento.
Depois de certo tempo comecei a compor impulsionado até por um projeto do qual eu participei uns anos atrás que é o Clube Caiubi de Compositores, de São Paulo, que tem, hoje, uma rede de mais de seis mil associados.
Em função desse projeto, da fundação desse clube, que eu acabei mergulhando mais nessa coisa de compor. E, até então, eu tocava na noite, para um público que não estava lá com esse fim que tinham minhas músicas, de reflexão. O pessoal estava indo lá para se divertir, para beber, para comer.
Com o advento do Clube dos Compositores eu me engajei mais em seguir com as composições e passar a apresentá-las com mais veemência à minha plateia, até que chegou um determinado momento em que eu não abandonei, mas eu comecei a dar muito mais prioridade ao trabalho autoral e de interpretação, que está aí até hoje.
Blog da Cidadania – Você, hoje, é um compositor, escreve as próprias letras das canções que interpreta, não é isso?
Max Gonzaga – É, eu faço música e letra. Eu tenho isso comigo porque eu sempre quero dizer alguma coisa, eu quero sempre dar um recado. Eu não quero que a música fale somente da própria música, eu quero que fale das coisas que a gente vive, das coisas que acontecem com a gente, que nos afligem ou daquilo que nos dá alegria…
Enfim, tratar da vida do cidadão comum. Trazer o cidadão comum para dentro da obra. Esse é o meu intuito maior.
Mas muitas vezes eu não consigo fazer isso em parcerias. Às vezes eu encontro pessoas que têm músicas com essas características e, aí, eu as incluo dentro do meu repertório, dos meus discos.
Blog da Cidadania – Parcerias com quem, por exemplo?
Max Gonzaga – Alguns compositores do próprio Clube Caiubi, que já incluí nos meus trabalhos. Não são pessoas conhecidas. São pessoas que estão, assim como eu, à margem da mídia, mas que produzem um trabalho igualmente vigoroso. Gente como Chico Pinheiro, Marcio Policarpo ou Álvaro Cueva.
Essas são pessoas que estão registradas em alguns trabalhos meus, mas há uma série de outros compositores desse clube que têm também essa mesma preocupação.
Blog da Cidadania – Alguém mais conhecido do grande público?
Max Gonzaga – Do Grande público, que estava lá na mesma batalha que a gente – e que, inclusive, emprestou seu prestígio para que pudéssemos conseguir alguma coisa – foi o Zé Rodrix…
Blog da Cidadania – Ah, sim, grande Zé Rodrix…
Max Gonzaga – Ele, inclusive, participou do vídeo de “Classe Média” no festival da Cultura, que está no You Tube. Ele está nos teclados, trabalhando junto com a gente.
Blog da Cidadania – Que Maravilha. Zé Rodrix foi uma figura…
Max Gonzaga – Foi uma grande honra, para mim, poder dividir o palco com essa figura lendária, que era uma pessoa muito aguerrida, muito preocupada com essa questão do “destravamento” da mídia.
Zé Rodrix foi parte do movimento durante o final da década de 70 e depois, por uma série de questões, passou a lutar também por uma mudança no status quo da questão da divulgação audiovisual de uma forma geral.
Foi um período muito bacana, aprendi muito com ele. E até hoje as influências e os ensinamentos dele estão comigo.
Blog da Cidadania – Curti muito o Zé Rodrix…
Max, “Classe Média” foi composta em que momento, em que ano, o que estava acontecendo que o motivou a criar essa obra que, a meu ver, é importantíssima e que será ouvida durante séculos?
Max Gonzaga – Pois é, infelizmente a música foi criada exatamente em cima do calor da emoção ante um tipo de fato que a gente está vendo acontecer neste instante, a questão da maioridade penal, a questão da pena de morte, decorrentes da passionalidade que se produz em algumas situações.
Claro que respeito outras opiniões, mas, nesse debate, ninguém fala do social, das carências que produzem esse estado de coisas. Só se fala em prender ou matar. E, nesse contexto, é óbvio que quem sai mais prejudicado são os menos privilegiados.
Então, fiz a música nesse momento, dado esse contexto, de nós voltados exclusivamente para nós mesmos, para a nossa segurança, para a educação dos nossos filhos, mas pouco preocupados com aqueles que não têm as mesmas possibilidades que eles
Essas pessoas que buscam esse tipo de “solução” para a violência ao mesmo tempo não aceitam a reação natural, sociológica, dessas pessoas que, dada a situação social em que estão, reagem de alguma forma por estarem fora do contexto social dos incluídos ao consumo e a outras regalias dos mais favorecidos.
Blog da Cidadania – Em que ano foi composta “Classe Média”, por conta desse contexto que você relata?
Max Gonzaga – Foi em 2005.
Blog da Cidadania – Você fala, na música, sobre aquele cidadão que “acredita na revista semanal”. Ao que você se refere?
Max Gonzaga – Quando eu falo da revista semanal, ela entra mais de forma simbólica. Não me refiro a essas ou àquelas editora ou revista. Refiro-me a um contexto midiático…
Blog da Cidadania – Ao conjunto da obra…
Max Gonzaga – Exatamente, não a uma voz específica entre todas as instituições midiáticas.
As pessoas, às vezes, têm a percepção de que estão se informando, mas, na verdade, elas estão seguindo uma tendência determinada por um conjunto de instituições midiáticas. Foi isso que eu quis dizer com a alusão à “revista semanal” na letra da música. Não critiquei nenhum veículo em especial.
Só quero deixar registrado, no entanto, que acho que a pluralidade é importante na democracia…
Blog da Cidadania – Uma pluralidade que não existe na mídia…
Há uma questão, Max, que eu comentava com você antes de começar a gravar, que é a seguinte: você é um artista, a meu ver, espetacular. Você tem uma voz muito boa, as melodias de suas músicas são muito boas, as letras…
O que acontece é que não entendo que um artista como você não tenha hoje uma projeção à altura do seu talento. Minha pergunta, então, é a seguinte: essa canção, “Classe Média”, você acha que incomodou àqueles que poderiam te levar a um nível de exposição que lhe permitisse galgar o sucesso que merece?
Max Gonzaga – Não, eu não tenho essa pretensão toda, Eduardo. Eu acho que existe uma conjunção de fatores que fazem com que eu não tenha, com o meu trabalho, uma projeção que tampouco têm outros artistas que não escrevem músicas incômodas como “Classe Média” e que tampouco alcançaram um grande sucesso, apesar de terem trabalhos maravilhosos.
É claro que a forma como eu abordo alguns temas não é tão digerível a alguns, mas não creio que seja esse o fator preponderante, pois da mesma forma que você tem aquele que não concorda, você tem aquele que concorda. Acho, portanto, que a questão é muito mais comercial do que ideológica.
Blog da Cidadania – Max, que outras composições você tem que abordam esse tipo de tema, que você pudesse citar?
Max Gonzaga – Eu tenho uma música desse último trabalho, que é o “fotografias”, que terá lançamento agora, no segundo semestre, que é “Cachorro Louco”. A música fala, essencialmente, do motoboy. Trata-se de uma figura meio “mágica” na cidade de São Paulo.
A gente convive com o motoboy o tempo todo como se ele fosse ora “deus”, ora “diabo”. Se ele te atrapalha no trânsito é “diabo”, se te leva aquele documento que você precisa desesperadamente, é “deus”.
Esse paradoxo eu acabo analisando na música, que é curtíssima – não tem 3 minutos.
Blog da Cidadania – Max, você precisa nos dar – até para eu poder linkar aqui no Blog – o endereço do seu site. Também coloco o Blog da Cidadania à disposição para você fazer algum comentário final que você julgue necessário.
Max Gonzaga – Todo o meu trabalho está disponível em meu site oficial:
Está tudo lá. As músicas dos dois CD’s estão lá, no site, disponíveis para download e em alta definição para que todo mundo baixe, pirateie, não tem problema nenhum. As músicas estão lá para que todos tenham acesso.
Lá também tem fotos, a divulgação das agendas de shows que estamos fazendo e que são muito menos do que eu gostaria, mas elas acontecem.
Sobre o recado que eu gostaria de dar, é o de que a gente precisa começar a colocar, na música, mais do cidadão comum, da gente mesmo, da gente como cidadão, do que nos aflige, do que nos agrada…
Hoje em dia está difícil de um artista dizer “Olha, tem isso aqui pra você pensar”, fazendo a gente olhar para o lado e dizer: “realmente”. A correria do dia a dia é tão grande que a gente perde a percepção das coisas que estão acontecendo ao redor.
Em minha opinião, esse é o grande papel do artista. Nessa hora, a sensibilidade do artista pode fazer a diferença.
Blog da Cidadania – Max, quero fazer uma pergunta – agora, de fato, pra fechar: você acredita que a mídia, de uma forma geral, estimula a futilidade? Pergunto isso porque vejo que as músicas falam de amor, cada vez mais de sexo…
Haveria, assim, um certo estímulo – e você pode me dizer sob que interesse, se comercial, ideológico ou ambos – à futilidade, ao oposto do que você prega como reflexão das pessoas?
Max Gonzaga – Eu não sou contra nenhum estilo musical. Acho que cada um tem liberdade para criar aquilo que achar que seja mais conveniente à sua proposta artística e profissional. O que acho que está complicado é a democratização do espaço para divulgação de todos os trabalhos.
Como a mídia está uníssona em determinados segmentos ou em determinados estilos e até determinados assuntos jornalísticos, fica complicado de a gente inserir qualquer coisa que destoe do “grande tema” que interessa a esses veículos de comunicação.
É óbvio que isso tudo gera uma preocupação “artística” de se produzir aquilo que esteja dentro de um contexto de debate da grande mídia, então as pessoas param de produzir arte para produzir um produto.
Então eu vou fazer um produto que se encaixe dentro do contexto atual para que eu possa vender mais. Assim, a parte artística da música é deixada de lado. Você acaba se preocupando muito mais com o cabelo e a roupa do artista por achar que farão com que a mídia se interesse pelo seu produto.
Nessa situação, portanto, grande parte da produção artística atual se limita a tentar criar alguma coisa “viável” do ponto de vista comercial.
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