quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A PEC 241 vai provocar uma fuga de cérebros para os países centrais, principalmente nos EUA para onde muitos já estão se dirigindo neste momento.

A PEC 241 e a inevitável fuga de cérebros

Marcos Pedlowski - Blog do Pedlowski - 12/10/2016

A opinião do professor da Universidade de São Paulo Paulo Artaxo de que a ciência do Brasil irá sofrer um atras de 20 anos por conta da aprovação da PEC 241 (Aqui!) não colocou um desdobramento adicional que me parece inevitável: a inevitável fuga de cérebros que deverá esvaziar universidades e institutos de pesquisa de alguns dos nossos mais promissores quadros.

Essa previsão é uma das mais fáceis de acertar. É que a aprovação da PEC 241 somada à outras medidas punitivas contra quem trabalha em instituições públicas (que não por caso hospedam a maioria dos cientistas brasileiros) irá tornar a saída pelos aeroportos a coisa mais atraente para quem continuar fazendo ciência com algum nível de qualidade.

Essa fuga de cérebros já ocorre historicamente, mas certamente será agravada com a adoção de medidas que vão restringir drasticamente o investimento em ciência e tecnologia (C&T) e piorar a condição salarial e previdenciária dos pesquisadores.

Para os membros do governo “de facto” essa fuga de cérebros será apenas a confirmação de que investir em C&T é desnecessário já que o país que eles querem, o negócio mesmo é consumir tecnologia pronta. Entretanto, para o resto do Brasil, a fuga de cérebros será catastrófica, visto que tudo o que foi investido nas últimas décadas em recursos humanos vai acabar sendo absorvido por instituições localizadas nos países centrais, principalmente nos EUA para onde muitos já estão se dirigindo neste momento.

Uma curiosidade nessa potencial fuga de cérebros é o papel que poderá ser cumprido pela China. É que seguindo o caso do futebol profissional onde clubes chineses recrutaram várias estrelas da seleção brasileira com seus salários milionários, o mesmo poderá ocorrer com as universidades e centros de pesquisa que estão neste momento adotando uma política agressiva de recrutamento de pesquisadores estrangeiros. Se isso se confirmar, o que teremos é uma trágica realidade: enquanto o Brasil vai continuar tentando exportar commodities agrícolas e minerais para os chineses, eles vão tentar nos vender tecnologia desenvolvida por cientistas brasileiros que eles recrutaram. Como já visitei um centro de pesquisa sobre a zona costeira na cidade de Yantai (Aqui!), posso assegurar que quem for para lá, não vai querer voltar.

Um elemento curioso nessa fuga de cérebros é que os primeiros a buscarem soluções individuais que a crise política e a escassez financeira está causando na ciência brasileira são os que estiveram nas ruas vestindo a camisa da CBF pedindo o impeachment de Dilma Rousseff. E tenho absoluta certeza que esses trânsfugas ainda vão dizer que saíram do Brasil para poderem continuar fazendo o que mais gostam e em instituições onde tenham condições de trabalhar apenas se preocupando com o bom funcionamento de seus laboratórios.

Mas se os cenários mais tenebrosos se confirmarem no tocante ao abandono do financiamento estatal das nossas universidades e centros de pesquisa que ninguém se surpreenda se a fuga for em massa. Afinal de contas, cientistas ou não, as pessoas possuem contas para pagar e famílias para criar.


Marcos Pedlowski

Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes, RJ. Bacharel e Mestre em Geografia pela UFRJ e PhD em "Environmental Design and Planning" pela Virginia Tech.

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