A segunda razão para votar contra a Independência do Banco Central é Cívica, isto é, referente aos direitos cívicos do cidadão como elemento integrante do Estado. A civilidade relaciona-se também ao dever de observar as formalidades que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração. Cabe evitar o corporativismo dos funcionários do Banco Central. Eles não podem ser servidores públicos autônomos sem prestar contas e voltados para seus próprios interesses particulares.
A terceira razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Separação entre os Poderes. É essencial para a manutenção da liberdade política que o Estado seja dividido em apenas três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Em regime democrático, os representantes do povo são eleitos para legislar e fiscalizar, assim como é eleito o(a) presidente(a) da República. Não há como comparar as exigências das carreiras dos magistrados do Poder Judiciário com as das carreiras de economistas que compõem o COPOM – Comitê de Política Monetária.
A quarta razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Critério de Escolha da Diretoria. O verdadeiro objetivo dos assessores econômicos que fazem a cabeça para uma candidata defender o anacronismo dessa independência é escolher colegas de pensamento econômico ultraliberal para o dominar esse Quarto Poder.
A quinta razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Viés da Validação Ilusória. Os membros de sua Diretoria buscariam só dados que corroborassem suas projeções como fosse um pensamento único coletivo. Sem pluralismo, falariam só com analistas que pensam da mesma maneira, selecionariam apenas informações que apoiassem sua decisão. O correto seria ter contatos com pessoas com pensamentos distintos ou fontes que questionassem suas hipóteses, fazendo-os refletir, procurar por pontos que não seriam capazes de prever.
A sexta razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Rejeição da Tecnocracia. Democracia é governo no qual o povo, direta ou indiretamente, toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade. Não se confunde com Tecnocracia, isto é, o sistema de organização política e social fundado na supremacia dos técnicos, e/ou com Meritocracia, quando há predomínio social daqueles que supostamente têm mais méritos intelectuais segundo o julgamento com o viés de auto validação de seus próprios pares de pensamento similar. Independência do Banco Central é um Golpe Tecnocrata!
A sétima razão para votar contra a Independência do Banco Central é Histórica. Ser cidadão brasileiro representou conquistar direitos civis, como ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante à lei, com um século de atraso, apenas com a extinção da escravidão e a proclamação da República, em 1888-89, em relação às conquistas inglesas, norte-americanas e francesas no Século XVII-XVIII. Somente um século depois, com a Constituinte de 1988, após 1/3 do período republicano com ditaduras (1930-1945 e 1964-1984), quando predominou o Poder Tecnocrático, conquistamos plenamente os direitos políticos de eleger a direção da sociedade, votar, ser votado, associar-se em sindicatos e partidos, liberdade de expressão, etc. Na transição do Século XX para o XXI, começamos a conquistardireitos sociais à educação, à saúde, à aposentadoria, à segurança pública. No Século XXI, nosso grande desafio está sendo conquistar direitos econômicos: ao trabalho, ao salário justo, a uma renda mínima, acesso aos bancos, isto é, a crédito e produtos financeiros. Não podemos permitir o retrocesso à autonomia dos tecnocratas na colocação de obstáculos a essas conquistas!
A oitava razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Descoordenação entre Instrumentos de Política Econômica. É necessário obter consistência no uso dos dois instrumentos de política de controle da demanda agregada (política fiscal e política monetária), dois regimes de câmbio (estabilizado e flexível) e quatro graus de mobilidade de capital. A Diretoria do Banco Central e a equipe econômica do Ministério da Fazenda não podem atuar de maneira descoordenada, uma tomando decisões que prejudicam a outra***.
A nona razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Argumento de Autoridade. Milton Friedman afirma que “a proposta do Banco Central independente não é a proposta monetarista”. Ele é contra o arbítrio colocado à disposição da diretoria de Banco Central independente. Joseph Stiglitz, economista keynesiano ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 2001, e ex-vice-presidente do Banco Mundial, se opõe à autonomia dos bancos centrais porque esses “tomam decisões que afetam todos os aspectos da sociedade, incluindo as taxas de crescimento econômico e do desemprego. Porque existem trade-offs, essas decisões só podem ser feitas como parte de um processo político”. Ele assinala que os “trabalhadores, que têm muito a perder se o Banco Central persegue uma política monetária excessivamente rígida, não têm um lugar na mesa. Mas os mercados financeiros – que não têm muito a perder com o desemprego, mas são afetados pela inflação [devido à “eutanásia dos rentistas” que aplicam em títulos de renda fixa] – são tipicamente bem representados”. Por fim, observa que “China, Índia e Brasil enfrentaram com mais êxito que diversos países centrais a crise econômica internacional porque evitaram conceder autonomia a seus bancos centrais”.
A décima razão para votar contra a Independência do Banco Central é que Correlação não é Causalidade. Eventual correlação entre grau de autonomia do Banco Central e baixa taxa de inflação significa apenas que esta é resultante de outros fatores como abertura comercial, finanças públicas saudáveis, taxa de câmbio estável, etc., existentes em países com ou sem Banco Central independente, indicando espuriedade.
A décima-primeira razão para votar contra a Independência do Banco Central é a Tropicalização Antropofágica Miscigenada. Ao longo da história econômica brasileira se impuseram duas sabedorias. Primeira, “independentemente dos homens e de suas intenções, sempre que o Banco Central se entrega à austeridade financeira, os Bancos Públicosescancaram os cofres, com a inevitabilidade quase de uma lei natural”. Segunda, “o comportamento dos Bancos Públicos é, por definição, o desejado pelo Governo da Ocasião, seja ele monetarista, seja desenvolvimentista, ou, quase sempre, apenas pragmático”. A dosagem de suas operações é instrumento básico de política monetária. O direcionamento setorialdo crédito dá-lhe flexibilidade. Em outras palavras, cada país tem suas próprias instituições ou costumes. Não são intercambiáveis, pois são construções coletivas de cada povo.
A décima-segunda razão para votar contra a Independência do Banco Central é o Anacronismo da Ideia. É uma atitude que não está de acordo com nossa época de inflação estável. A experiência brasileira de estabilização inflacionária demonstra que ter Banco Central independente não é nem condição necessária nem suficiente, para combater a inflação. Para o sucesso dessa política, há sim necessidade de adotar política macroeconômica abrangente e coordenada, envolvendo política de abertura comercial, política fiscal, política de rendas, política cambial e política de juros, em condições internacionais propícias ao acúmulo de reservas internacionais e à sobrevalorização da taxa de câmbio. A independência do Banco Central também não consegue controlar a oferta de moeda endógena, ou seja, a remonetização determinada pela nova demanda por moeda dos agentes econômicos nas condições de estabilidade inflacionária. Sempre são as forças de mercado que efetivam a oferta de moeda.
A décima-terceira razão para votar contra a independência do Banco Central é a Dependência em Relação a O Mercado. O risco de sua autonomia absoluta em relação ao governo é seus diretores tornarem-se dependentes de apoio de O Mercado para a nomeação e, depois, contratação após a demissão ou a aposentadoria.
Vote 13!
***
*** Por exemplo, a eficácia da política fiscal em expandir o nível de emprego, durante regime de câmbio fixo, depende do grau de mobilidade de capital:
- se forte, o impacto monetário do balanço de pagamentos reforça o efeito inicial da expansão fiscal;
- se fraco, o efeito estimulante da política fiscal sobre renda é contrariado, parcialmente, pelo déficit externo que leva à contração monetária.
Outro exemplo é a combinação ótima de políticas econômicas com taxa de câmbio estável:
- com controle de capital, uma política fiscal expansionista em simultâneo com uma política monetária contracionista, eleva o juro sem atrair capital suficiente para cobrir o déficit do balanço de pagamentos, obtendo expansão da renda e do emprego;
- já com abertura financeira, a política fiscal expansionista, acompanhada de política monetária expansionista, limita a alta do juro e, em consequência, o superávit da conta capital, estimulando o investimento.
Com regime de câmbio flexível:
- a política monetária será sempre mais eficaz do que é com regime de câmbio fixo, independentemente do grau de mobilidade de capitais;
- já a política fiscal com mobilidade forte provoca superávit do balanço de pagamentos e apreciação da moeda nacional, desestimulando a exportação e estimulando importações, portanto, para ela ser eficaz no sentido expansionista, tem de ser combinada com controle de capital, provocando déficit do balanço de pagamentos edepreciação da moeda nacional, o que reforça a exportação de produtos nacionais.
Conceder independência ao Banco Central é:
“colocar raposa para tomar conta de galinheiro”;
“dar o apito para o treinador do time adversário”;
“querer achar chifre na cabeça de cavalo”;
“buscar pêlo na casca de ovo”…
Porque:
“Política monetária é como mola, serve para puxar, mas para impulsionar não é de grande valia”.
“Política monetária é como corda: você laça o touro, mas se ele se volta contra você, ela não serve para retrocedê-lo”.
“Controlar a economia com a política monetária é o mesmo que segurar um tigre por seu rabo”.
“Enxugar a liquidez da economia é o mesmo que enxugar gelo”.
“Você pode levar o cavalo à fonte, mas não pode obrigá-lo a beber, assim como pode dar liquidez à economia, mas não consegue expandi-la”.
Em outras palavras, “política monetária provoca recessão, porém, por si só, não tem a capacidade de provocar expansão da renda e do emprego”.
Bruno De Conti é professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon/Unicamp). Publicou uma ótima análise, no JB, crítica à proposta ultraliberal do programa de Marina Silva de só implantar “regras e metas“ com o propósito de manietar o Estado brasileiro e evitar “ações discricionárias” do governo, que são tomadas no sentido de superar o atraso socioeconômico histórico do País. Caso ela ganhar a eleição, estará implantado o “liberou geral!”Salve-se quem puder, pois naturalmente não serão salvos “os incompetentes com pouco poder de mercado“…
“Nas campanhas eleitorais, a escolha das palavras é importante. Para assuntos econômicos, a tarefa é um pouco mais inglória, já que o “economês” pode ser de difícil compreensão. No entanto, nada impede que no meio das expressões sejam jogadas algumas palavras bonitas para que fique tudo resolvido. “Independência” é uma palavra cativante; soa bem e todos almejam. Responsabilidade, autonomia e austeridade fazem parte desse mesmo grupo.
Mas e a independência do Banco Central (BC), proposta por Marina Silva, o que quer dizer? Segundo o programa de governo da candidata, essa independência significa “que ele[BC] possa praticar a política monetária necessária ao controle da inflação”. Algo que já faz parte das tarefas do Banco Central, mas com uma diferença importante: o BC poderia buscar esse objetivo de forma “independente” em relação ao governo e às suas prioridades, pois teria um mandato fixo. Ou seja, poderia perseguir as metas sem se preocupar com nada além das próprias metas. Continuar a ler
Stiglitz: Independência do Banco Central É Desnecessária e Irrealizável
Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel e um dos mais famosos economistas de nossa época, desencadeou um discurso verbal contra a independência do banco central, em palestra na Índia, relata o The Times of India.
Segundo Stiglitz, a independência do banco central é um tanto superestimada, uma vez que ela não necessariamente se correlaciona com um melhor desempenho econômico. E, na prática, é politicamente inviável!
“[A crise] mostrou que um dos princípios centrais defendidas pelos banqueiros ocidentais – o desejo de independência do banco central – se tornou questionável na melhor das hipóteses… Na crise, os países com bancos centrais menos independentes tais como China, Índia e Brasil se comportaram muito, mas muito melhor do que os países com bancos centrais mais independentes na Europa e os Estados Unidos. Não existe tal coisa imaginada como instituições realmente independentes. Todas as instituições públicas têm de assumir responsabilidades – e a única questão é perante a quem.”
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