FAVRETO E OS FALSOS MORALISTAS
Por Moisés Mendes - Via Facebook - 08/07/2018
Alguém que teve em algum momento um vínculo formal e orgânico com um partido é apenas um cidadão. Se o partido não expressa posições fascistas, não há nada de errado.
Ao contrário, está tudo certo. As grandes democracias ainda têm partidos fortes com alto índice de engajamento das suas populações.
O juiz Rogério Favreto, que determinou a soltura de Lula, foi ligado ao PT. Jornalistas da assessoria de imprensa do golpe o acusam de ser um juiz sob suspeita.
É uma bobagem. Partidos são, nas democracias, os espaços para a afirmação de posturas políticas de qualquer pessoa, sem distinções.
Partidos são redutos da resistência mesmo nas ditaduras. São os detentores da prerrogativa de apresentarem nomes habilitados a exercer a representação por voto. Partidos não são entidades clandestinas. Sem partidos, não há democracia plena, por mais depreciados que eles estejam.
O juiz Favreto não é mais ou menos juiz por ter tido ligação com um partido. Ele exerceu seu direito de cidadão de forma explícita, sem biombos e negaceios.
Ninguém pode dizer que o desembargador Favreto faz exibições públicas de poder ao lado de poderosos, que tira fotos com corruptos, que frequenta convescotes com golpistas, que divide a mesa de palestras com tucanos.
O juiz Favreto não é um magistrado dissimulado, bajulado, cortejado pelos reacionários brasileiros, eleito amigo da imprensa, considerado parceiro de investigadores e arapongas americanos.
O juiz Favreto não é um deslumbrado de gravata borboleta transformado em celebridade por causa da função que exerce como togado. Talvez nunca tenha usado uma gravata borboleta.
Então, os ataques ao juiz por sua antiga ligação com o PT são apenas uma tentativa de desqualificar sua coragem ao enfrentar a tropa de choque da Lava-Jato, que condenou Lula em tempo recorde. Não haveria esse falso dilema moral se o juiz fosse tucano.
Favreto pôs a Lava-Jato de joelhos, ao expor mais uma vez a farsa do Judiciário pretensamente sem lado. O desembargador fez com que a lerda Justiça brasileira fosse de novo repentinamente ágil, para evitar a soltura de Lula.
O juiz a ser imitado pelas novas gerações de operadores do Direito é Favreto, não é o chefe da Lava-Jato. Ele ficou sozinho no Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, quando da tentativa de enquadrar Sergio Moro por causa do grampo de Dilma Rousseff. Ninguém o acompanhou.
E agora Favreto reafirmou para o Brasil que Lula é um preso político e que a solução para o impasse do seu encarceramento passa longe dos limites do Judiciário.
A libertação de Lula depende menos da Justiça e mais de gestos políticos decididos, porque é rasteiramente política a decisão que o mantém preso em Curitiba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário